O camarão é o sustento da comunidade ribeirinha Retiro, situada às margens do rio Piauí, afluente do rio São Francisco, no município de Piaçabuçu (AL). Os pescadores e extrativistas utilizam o meio mais comum na região para obter o camarão, que é o covo – uma armadilha onde se colocam as iscas e que tem um acesso para retirar os peixes ou demais capturas, neste caso o camarão.
O crustáceo é nativo das lagoas da várzea da Marituba e segundo o tecnólogo químico, especialista em Desenvolvimento Sustentável do semiárido e agroecologia e morador da região, Jorge Izidro o local “é um berçário ecológico de espécies para o Velho Chico.
Muitas delas também acabam vindo do oceano. Digo que a região da Foz do rio São Francisco é muito importante para o ambiente natural, bem como a Área de Proteção Ambiental (APA) da base da Marituba. A conservação da fauna e flora são imprescindíveis e colaboram com a manutenção do sustento das comunidades ribeirinhas”, disse.
A várzea da Marituba é um exuberante recanto do litoral de Alagoas, localizado próximo à Penedo e Piaçabuçu, às margens do Velho Chico. Também conhecida como o pantanal alagoano, o lugar é formado de rios, restingas, estuários e lagoas, formando uma extensão de 18.600 hectares de água e terra.
Considerando a importância do local, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), através da Agência Peixe Vivo, vai implementar em julho deste ano o projeto de Educação Ambiental e Reflorestamento Bosque Berçário das Águas projeto que visa proporcionar para as comunidades da foz áreas de reflorestamento, com implementação dos sistemas agroflorestais, que vão possibilitar geração de renda para essas comunidades. “Será construído um viveiro de mudas nativas na sede da associação. A ordem de serviço já foi assinada pela Agência”, explica Izidro. A iniciativa é financiada com recursos oriundos da cobrança pelo uso da água bruta na calha do São Francisco.
Cinco áreas serão contempladas com o projeto na região: o terreno da Associação Aroeira, o terreno da Coopaiba, uma área administrada por Erick Tenório, o assentamento Fazenda Paraíso e o povoado Resina que fica na comunidade de Brejo Grande (SE).
Para o presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, esse investimento vai melhorar a qualidade das águas do rio São Francisco e seus afluentes, como é o caso do rio Piauí. “Para manter e preservar o rio e afluentes é importante educar as pessoas, estimular a comunidade no sentido de criar alternativas para cuidar do local onde vivem, gerar renda de forma sustentável, combatendo assoreamento e outros males à natureza”.
Eliene Santos é mãe de seis filhos e moradora da comunidade Retiro. Ela vende os camarões que extrai rio Piauí, na feira da cidade. “Faço parte da Associação Aroeira, que me ajudou muito na capacitação e no sustento da casa. Sou extrativista e pescadora. É através do rio que consigo levar comida para casa, então eu viro carranca para defender o Velho Chico”, diz.
Givanildo Rufino também pesca e extrai do rio Piauí o camarão. Ele afirma que a preservação é fundamental para que se obtenha um quantitativo bom de camarão e peixes na região. “Saímos logo cedo e colocamos os covos em toda margem do rio e sempre extraímos uma quantidade considerável de camarão nativo e peixes, o que nos dá muita satisfação, pois nos beneficiamos do que a natureza tem de bom. Essa maneira de trabalhar sem agredir a natureza nos ajuda e colabora para sua preservação”, contou.
O professor doutor do curso de Engenharia de Pesca pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Petrônio Alves, explicou que a pesca do camarão de água doce cujo nome científico é Macrobrachium acanthurus, é uma das principais atividades econômicas das comunidades tradicionais ribeirinhas, de onde várias famílias retiram seu sustento.
“Sua captura é realizada através da utilização de armadilhas passivas cilíndricas denominadas covo. Na prática, é colocada uma isca no interior da armadilha, pela qual o camarão é atraído e o faz entrar por uma abertura em forma de funil de onde não consegue mais sair. Os covos são colocados pelo pescador no rio ao entardecer e retirados geralmente na manhã seguinte. Adicionalmente, os pescadores retiram diariamente o camarão dos covos e juntam em um covo maior com o intuito de retirar a produção semanalmente que será vendida diretamente nas feiras livres ou para atravessadores, fresco ou torrado”.
Petrônio explica que, embora seja uma atividade econômica que ajuda no sustento da família, se faz necessário adotar práticas sustentáveis para a pesca do camarão, evitando a captura de exemplares imaturos e em período de reprodução. “Esse processo passa pela necessidade de assessorar os pescadores e do contínuo monitoramento dos camarões, determinando os parâmetros populacionais e de captura. Cada bacia possui características ecológicas e sociais próprias, e apenas pelo monitoramento em cada bacia é possível contribuir para um manejo sustentável da pesca, garantindo a continuidade desse importante recurso para as comunidades ribeirinhas”, finalizou.
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