Doenças desencadeadas pelo estresse têm aumento durante a pandemia da Covid-19

22 de Jun / 2021 às 19h30 | Coronavírus

A pandemia da Covid-19, que alterou as estruturas econômicas e sociais no mundo, trouxe um fardo adicional à população mundial além da doença causada pelo coronavírus Sars-CoV-2: enfermidades ativadas pelo estresse mental, como enxaqueca e herpes-zóster, tiveram um aumento durante o período e desafiam os sistemas de saúde a prestar ainda mais assistência em um período crítico.

Cerca de 45% da população de 30 países teve piora leve ou intensa nas condições de saúde mental, aponta pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos divulgada em abril deste ano. No Brasil, o índice sobe para 53% — o quinto país da lista com o pior índice.

"Na prática, os gatilhos de estresse, ansiedade e insônia aumentaram muito neste período. No início da pandemia foi ainda pior, pois as pessoas não saíam de casa para fazer as consultas médicas", afirma a médica neurologista Aline Vitali da Silva, coordenadora do Ambulatório de Cefaleia da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), em Londrina.
Segundo a médica, foi possível observar aumento na frequência das crises de enxaqueca em quem já tinha a doença e em diagnósticos novos.

"Com as consultas online as pessoas passaram a buscar mais o tratamento e a situação foi melhorando. Mas há ainda muitos que não procuram atendimento", diz Silva.

Levantamentos mostram aumentos na frequência e intensidade da enxaqueca no mundo todo. Em uma dessas pesquisas, feita com mais de 1.000 pacientes da doença no Kuwait, apontou que quase 60% dos participantes teve piora nas crises. O estudo foi publicado em setembro no periódico científico Journal of Headache and Pain.

Identificada geralmente por uma forte dor de cabeça, a enxaqueca pode vir acompanhada de outros sintomas, como nausea, vômito, fotofobia (incômodo causado pela luz) e até diarreia em alguns casos, diz Silva. Fora do período de crise, o paciente tende a limitar sua vida social e profissional por medo das manifestações.

Os chamados gatilhos podem desencadear uma crise pontual, que pode durar alguns dias. Esses gatilhos podem variar de pessoa para pessoa, mas o estresse e a ansiedade estão entre os mais comuns. A enxaqueca é considerada uma doença crônica e, quando não tratada, pode trazer crises por dias e meses seguidos.

Silva recomenda a procura por um médico neurologista quando a dor durar pelo menos três dias no mês. "Dores de cabeça que têm subida intensa e não cedem com remédios, ou que pioram com o esforço físico, merecem atenção especial", afirma.

A automedicação, prática comum no país e que teve aumento durante a pandemia, traz riscos ainda maiores para portadores de enxaqueca, segundo Silva. "Quando usados por mais de dez dias por mês, os analgésicos podem trazer piora no padrão da dor e parar de fazer efeito", alerta a médica.

O grupo de pesquisadores de dores de cabeça da PUCPR lançou um livro digital com explicações e orientaçoes aos pacientes que pode ser baixado gratuitamente no site naoedrama.com.br.

Pesquisadores brasileiros apontaram ainda que a herpes-zóster, outra doença que pode ser ativada pelo estresse, teve um aumento no número de casos de cerca de 35% no país durante a pandemia. O estudo, publicado em fevereiro na revista científica International Journal of Infectious Diseases, foi feito com dados do SUS e apontou crescimento dos casos em todas as regiões do Brasil.

"Observou-se que, no período que antecedeu a pandemia, tínhamos 30,2 casos de herpes-zóster para cada 1 milhão de pessoas. Durante a pandemia, esse número saltou para 40,9 casos por 1 milhão de indivíduos", disse Hercílio Martelli Júnior, coordenador da pesquisa e professor da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) em comunicado publicado pelo governo de Minas Gerais.

A herpes-zóster é causada pelo vírus da catapora que pode ressurgir na vida adulta, trazendo lesões avermelhadas na pele e dor.

Folha Press

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