Enquanto a vacinação contra a Covid-19 não deslancha, analistas enxergam cenário volátil para a economia, com incertezas sobre o ritmo de recuperação dos negócios. Essa avaliação foi reforçada após a divulgação dos resultados referentes a abril de serviços, vendas do comércio e produção industrial.
Ou seja, na visão de analistas, a tendência é que, sem o controle da Covid, os indicadores de atividade voltem a intercalar períodos de alta com momentos de perda de fôlego.
Dos 3 setores, 2 tiveram avanços em abril: comércio (1,8%) e serviços (0,7%). A indústria ficou no vermelho, com baixa de 1,3%. Os dados foram divulgados pelo IBGE nos últimos dias. Segundo o órgão, só o varejo voltou a operar em patamar superior ao pré-pandemia no país. A alta de 1,8%, confirmada na terça-feira (8), veio após queda de 1,1% em março.
O avanço de 0,7% nos serviços, divulgado nesta sexta-feira (11), ocorreu após retração de 3,1% no mês anterior.
O alívio dos dois setores é atribuído a questões como a volta do auxílio emergencial e o menor nível de restrições a atividades em abril. A piora da crise sanitária paralisara em março operações de empresas em diferentes regiões.
Aprodução industrial, por sua vez, amargou em abril a terceira queda em sequência, conforme o IBGE.
"Os indicadores apontam para uma economia que ainda não tem condições de se recuperar com as próprias pernas. Em abril, setores de comércio e serviços tiveram resultados mais positivos com a volta do auxílio e a flexibilização de medidas restritivas. A queda da indústria reforça a ideia de que a atividade econômica vai seguir de forma volátil até que a gente não tenha uma situação mais segura", afirma o economista Fabio Bentes, da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).
O economista Rafael Cagnin, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), vai na mesma linha. "As coisas só vão se resolver com o controle da pandemia. Experiências internacionais têm sido assim."
De acordo com Cagnin, a produção industrial foi prejudicada no primeiro quadrimestre porque o consumo ainda não teve retomada consistente no mercado interno. Desemprego e inflação em alta desafiam reação mais firme no cenário doméstico.
"A queda da produção industrial mostra que a atividade econômica ainda não está redonda. Ainda não dá para contar com uma atividade pujante, e temos de tomar cuidado com a base de comparação fraca em comércio e serviços. Essa é a leitura", diz Fernanda Consorte, economista-chefe do banco Ourinvest.
O avanço da vacinação é considerado fundamental para destravar principalmente o setor de serviços. O segmento, intensivo em mão de obra, reúne atividades com dependência da circulação de clientes em espaços físicos. Hotéis, bares e restaurantes fazem parte dessa lista.
Nesta sexta-feira, o IBGE relatou que os serviços prestados às famílias, mesmo com melhora em abril, estão 40,1% abaixo do patamar pré-pandemia. O segmento contempla as atividades de alojamento e alimentação.
Estimativa da CNC, também divulgada nesta sexta-feira, indicou que, desde março de 2020, as perdas mensais sofridas pelo setor de turismo somam R$ 355,2 bilhões no país.
"Sem avanço na vacinação, a economia é como um ônibus que pode ter de frear de repente. Estamos vivendo um momento em que é necessário ter mais vacinas", diz André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos.
Em relatório, o banco Goldman Sachs afirma esperar que parte dos serviços mais impactados pela Covid-19, especialmente aqueles prestados às famílias, se recupere nos próximos meses, em conjunto com o progresso no programa de imunização, a reabertura gradual da economia e o estímulo fiscal renovado.
Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, também ressalta que a vacinação é peça importante para a retomada da confiança de consumidores e investidores. "O setor de serviços responde por mais de 70% do PIB. A projeção de recuperação está ancorada no processo de vacinação. Isso norteia as expectativas."
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