Um dispositivo eletrônico de monitoramento dos batimentos cardíacos e da temperatura do pelame de animais de produção gerou o registro da segunda patente concedida à Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).
O invento é o primeiro equipamento desenvolvido no país que permite o acompanhamento desses dois parâmetros em animais de pequeno e médio porte. O deferimento da patente foi divulgado pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), no último dia 25 de maio.
O equipamento patenteado foi desenvolvido pelos professores Daniel dos Santos Costa, Sílvia Helena Nogueira Turco, ambos do Colegiado de Engenharia Agrícola e Ambiental (Cenamb), e Rodrigo Pereira Ramos, do Colegiado de Engenharia Elétrica (Cenel). O dispositivo é um sistema microcontrolado, que é acoplado ao corpo do animal e determina em tempo real os batimentos cardíacos e a temperatura do pelame, que é a pele coberta por pelos no animal. As informações são enviadas de forma remota para o computador, possibilitando o acompanhamento dos dados, com o registro horário desses parâmetros, sem nenhum contato físico entre homem e animal.
A criação do produto ocorreu durante o mestrado do professor Daniel Costa, que contou com apoio da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe), no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola da Univasf. O docente se dedica ao estudo e à pesquisa na área de bem-estar animal desde o curso de graduação em Engenharia Agrícola, também na Univasf.
“Começamos esse trabalho como Iniciação Científica, continuamos com a pesquisa durante o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na graduação e posteriormente no mestrado, em 2012. Na época, não existiam no Brasil dispositivos que medissem esses parâmetros fisiológicos de animais de produção. Os parâmetros eram analisados de forma subjetiva”, relata Costa.
Os testes do protótipo foram feitos com caprinos no Campus Ciências Agrárias (CCA) da Univasf e com ovinos da raça Dopper, numa fazenda da região. Os ensaios com os animais foram realizados em dois turnos para verificar o desempenho do equipamento em horários distintos do dia. Os dados de batimentos cardíacos dos animais medidos com o equipamento foram comparados com os registros feitos por um eletrocardiograma para pequenos animais, cedido pelo Hospital Veterinário da Univasf, que atestaram a confiabilidade da medição. O protótipo resultou na dissertação de mestrado de Costa, elaborada com orientação da professora Sílvia Turco e coorientação do professor Rodrigo Ramos. O depósito do registro de patente foi protocolado junto ao INPI em 2015.
Essa tecnologia pode contribuir para a saúde e o desempenho do animal, proporcionando mais segurança ao produtor, que desta forma, tem informações mais precisas para atestar os princípios de bem-estar adotados durante a produção. Os dados coletados pelo equipamento também podem ser utilizados no manejo dos animais, como estabelecer o momento adequado para a cópula, identificar possíveis enfermidades ou adotar mudanças estruturais nos locais de criação que possibilitem melhorar as condições de vida do rebanho, reduzindo o estresse térmico, por exemplo. “O equipamento permite o monitoramento constante do animal, em tempo real, para que ele possa se desenvolver dentro de condições de produção consideradas ótimas”, explica Costa.
Em 2020, o professor Daniel Costa depositou outro pedido de patente junto ao INPI para o dispositivo OPTOFruit, desenvolvido em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O pesquisador tem ainda o depósito de outras duas patentes, que também aguardam análise do INPI. Para ele, é importante que além da produção científica com a publicação de artigos em periódicos especializados, o pesquisador se dedique ao desenvolvimento de inovações que contribuam para o avanço tecnológico do país. “Considero que o desenvolvimento da propriedade industrial e a proteção intelectual, com o depósito de patentes, são tão fundamentais quanto a publicação de artigos científicos. Assim podemos gerar valores e dividendos ao conhecimento científico, que beneficiam a sociedade e a academia”, afirma.
A diretora de Inovação Tecnológica da Univasf, Michely Diniz, destaca que essa patente é mais uma tecnologia produzida pela Univasf, no semiárido nordestino, com todos os contratempos e dificuldades. “A tecnologia protegida por essa patente mostra que a ciência da Univasf está respondendo às problemáticas de nossa região, nesse caso, melhorar o bem-estar dos animais de produção, e pode ser ampliada para outras realidades”, observa a professora.
De acordo com dados do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), a Univasf detém 104 ativos de propriedade intelectual, desses 44 são pedidos de patentes em que a Universidade é a única titular. Em 31 deles, a Univasf divide a titularidade dos pedidos com outras instituições. Este ano, já foram depositados 11 ativos junto ao INPI.
A professora Michely frisa que o processo de registro de uma patente é longo e envolve várias etapas, exigindo tempo e dedicação dos pesquisadores e da Universidade. “O árduo trabalho desse grupo de docentes que não desistiram, que desenvolveram a pesquisa, redigiram o pedido de patente, responderam às exigências do processo, foi merecidamente reconhecido como inovador por ter novidade, aplicação industrial, atividade inventiva e suficiência descritiva”, conclui a diretora.
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