O superintendente de Políticas e Planejamento Ambiental da Sema, Claudemir Nonato afirma que o combate à desertificação é um debate que precisa envolver a comunidade científica, sociedade civil e governos para que, de forma conjunta, para atuar na busca de soluções assertivas e viáveis que possam ser implementadas pelos órgãos públicos. "Vamos ampliar o diálogo com vistas à integração de políticas e ações realizadas pela administração pública e sociedade civil. A nossa proposta é criar estratégias sustentáveis para promoção de um desenvolvimento limpo, com equidade, sustentabilidade e respeito ao meio ambiente”.
A professora Jocimara Lobao, coordenadora do Programa de Modelagem em Ciências da Terra e do Ambiente, desmitificou que a desertificação do semiárido seja algo natural.
“A desertificação do semiárido não está diretamente relacionada apenas às mudanças climáticas, ela atua, sim nesse processo, mas o que causa a desertificação é a forma como a sociedade se apropria dessa natureza e desse espaço que é tão frágil”, explicou Jocimara.
“Podemos elencar uma série de problemas conectados com a compactação do solo, entre eles, a perda de nutrientes, perda de biodiversidade e o impacto no ciclo da água. O resultado disso é um colapso ambiental, seja localizado, e depois vai-se expandindo, ou pode acontecer um colapso em uma escala muito maior”, explicou o ambientalista Virgílio Machado.
Ainda segundo Virgílio, os maiores biomas brasileiros estão em risco de desertificação (dados do INPE). “Os biomas mais desmatados do Brasil são os biomas que em grande parte compõem a Bahia. A Mata Atlântica, lar de 72% dos brasileiros, tem 88% de sua área desmatada; o Cerrado, berço das águas, tem 51% de sua área desmatada, restando 20% de vegetação nativa; a Caatinga, onde a Bahia tem um maior número de municípios, tem 45% da sua área desmatada. O Nordeste é a região do Brasil mais vulnerável às mudanças do clima”, explicou Virgílio.
Em 2018, foi realizada uma pesquisa desenvolvida na Unicamp revelando que o Estado da Bahia vem apresentando aumento no índice de aridez e diminuição de chuvas. Os estudos indicam que a tendência é que a situação se agrave nos próximos 30 anos, provocando um aumento das áreas com risco de desertificação na região. As conclusões são da tese de doutorado “Áreas de risco de desertificação: cenários atuais e futuros, frente às mudanças climáticas”, defendida por Camila da Silva Dourado na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp.
A desertificação é a degradação de terras nas zonas áridas, semiáridas e subúmidas a secas, como resultado das variações climáticas e ações antrópicas, ou seja, as alterações causadas pelo ser humano no ambiente. Este fenômeno transforma terras férteis e agricultáveis em terras improdutivas, causa impactos ambientais como a destruição da biodiversidade, diminuição da disponibilidade de recursos hídricos e provoca a perda física e química dos solos. Neste caso, a pesquisa aponta que as mesorregiões que mais expandiram as áreas com risco de aridez são os maiores polos agrícolas baianos. “Ainda é necessária uma análise mais aprofundada sobre a desertificação nessas áreas, mas os dados mostram que esses polos agrícolas observados passaram a ser considerados como áreas de alto risco”, explica Camila.
O trabalho foi realizado sob orientação de Stanley Robson de Medeiros Oliveira, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária e coorientação de Ana Maria Heuminski de Avila, pesquisadora do Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura). Os autores alertam para a necessidade de se adotar medidas preventivas agora para que as previsões não se consolidem.
Historicamente a região norte do território baiano integra o polígono da seca, uma área de mais de 1 milhão de km² entre os Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, que enfrenta crises repetidas de estiagem. Dessa forma, a manutenção da fruticultura no norte é feita através de sistemas de irrigação. Porém, outro problema apontado pela pesquisa é que regiões antes consideradas com risco baixo de desertificação passam ao moderado e alto, como é o caso da região oeste. Essa situação mudaria todo o cenário de produção agrícola do estado.
Nos últimos anos os pesquisadores também vêm se preocupando com a influência das mudanças climáticas no avanço do processo de desertificação. “Com o aumento de temperatura estimado em 1 ºC e a diminuição na precipitação, há a ocorrência de um outro indicador que utilizamos, a evapotranspiração, que é subsídio para um outro indicador, o índice de aridez. Juntando essas variáveis, e com as novas projeções do modelo de mudanças climáticas, confirma-se que há uma expansão muito grande das áreas de desertificação”, esclarece Camila.
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