No último dia 26/05, o Papa Francisco, com o seu humor já característico quando anda na Praça S. Pedro, no Vaticano, cumprimentando e benzendo as pessoas de todo o mundo que ali comparecem para buscar a bênção do Sumo Pontífice ou mesmo só para vê-lo de perto, brindou o mundo, e em particular o Brasil, com uma frase que ainda que tenha todo o tom do humor portenho, trouxe no seu cerne duras verdades que devem nos levar à reflexão.
No simpático percurso que faz a pé, desta feita pelo pátio de San Damaso, o Papa passou em frente a padres brasileiros e foi logo abordado pelo jovem padre João Paulo Souto Victor, de Campina Grande (PB), que apelou em claro italiano: “Santo Padre, reze por nós brasileiros”! Numa repentina explosão de humor, associado à verdade do que pensava, o Pontífice aproximou-se um pouco mais como a querer falar ao seu ouvido, e respondeu: “Vocês não têm salvação... É muita cachaça e pouca oração". E aqui cabe a pergunta: Verdade ou engano?
Embora tenha até rimado, ficou evidente que o complemento dado à frase principal deu um ar de graça e leve brincadeira do Papa Francisco com o padre brasileiro. Obviamente, justificou o pensamento Papal quanto ao fato do excesso de bebida (ou a cachaça, como ele expressou!) estar impedindo a boa prática da oração no Brasil. Sem qualquer contestação à sua sábia assertiva, permito-me adicionar, apenas, como analista dos fatos do cotidiano, e acho que o leitor concordará plenamente comigo que, associado a essa deficiência dos princípios fundamentais da fé, há em nosso País carências básicas inerentes à formação da personalidade humana, que podem ser lembradas, como: caráter, honestidade, moralidade, ética e respeito, numa dimensão tão extensa que nem as orações do Papa nos salvarão! É uma infeliz verdade? Sim!
Além dessas características negativas de perfil muito frequentes no brasileiro, mais recentemente a corrupção se intensificou no Brasil e com repercussão mundial, pelo volume de escândalos financeiros praticados pelos notáveis da política nacional, em todos os níveis, com ampla extensão, também, no segmento empresarial.
Embora a corrupção seja uma praga histórica desde os tempos imperiais no Brasil, a grande maioria dos investigados recentes teve a punição merecida durante a Operação Lava Jato. Assim como o crime oficial atingiu níveis como nunca se viu e envergonhou às pessoas de bem no país, igualmente causou profunda decepção a todos a repentina inversão de todo o processo, em que os bandidos foram subitamente soltos das prisões, e certos Procuradores e Juízes achincalhados e julgados ao extremo!
O pior de tudo isso, é que, de maneira incompreensível, houve uma abrupta mudança de interpretação nos próprios Tribunais Superiores, que passaram a ter um novo entendimento quanto à instância adequada de julgamento dos crimes, sendo que a operação começou em 2014 e o desmonte se concretizou em 2020, resultando na soltura de criminosos mais do que comprometidos, como o Gedell Vieira Lima! De sã consciência, é possível conceber que Magistrados de elevado saber jurídico tenham interpretações diferentes e em dois tempos diversos? Mesmo que qualquer senso crítico procure entender, jamais conseguirá!
Nada mais claro e verdadeiro que a impunidade é o fator determinante do desenvolvimento do crime em geral, e em particular os praticados pelos agentes do “colarinho branco”. No instante em que foram presos, houve uma percepção de que o medo determinou um visível e temporário recuo dos criminosos de carteirinha.
Concluo, por reproduzir um importante pensamento do líder espiritual indiano Mahatma Gandhi (1869-1948), que bem define todo esse contexto humano e político que envolve o Brasil:
“O que destrói o ser humano? Política sem princípios, prazer sem compromisso, riqueza sem trabalho. Sabedoria sem caráter, negócios sem moral, ciência sem humanidade e oração sem caridade”.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – de Salvador - BA.
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