Covid-19: Programa de rádio debate o que se sabe até hoje sobre o uso da Cloroquina, da Hidroxicloroquina e da Ivermectina

05 de May / 2021 às 09h30 | Coronavírus

Diante da explosão de novos casos da covid-19 e do atual ritmo da vacinação no país, seria mais do que oportuno encontrar um remédio eficaz que elimine a doença. Mas é importante ressaltar que não há tratamento medicamentoso que comprovadamente previna ou cure a covid-19. Pelo contrário, evidências científicas mostram que além de não darem resultado, medicamentos do chamado “Kit covid” podem causar danos ao organismo.

A Ivermectina é um dos medicamentos que fazem parte do kit distribuído por algumas prefeituras e redes de saúde, além de ser defendido por membros do governo federal como tratamento precoce da covid-19. O medicamento antiparasitário tem ação contra vários parasitas como a lombriga e o piolho, mas não tem eficácia contra a covid comprovada por estudos mais rigorosos e publicados em revistas científicas de impacto.

O seu uso para esse fim é desencorajado por entidades médicas e farmacêuticas, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela própria fabricante do medicamento.

De onde surgiu? O uso da Ivermectina no tratamento contra a covid-19 ganhou maior visibilidade após publicação de estudo in vitro, isto é, feito em laboratório e não aplicado em humanos, em abril de 2020. Essa pesquisa mostrou que o medicamento inibe a replicação do Coronavírus SARS-CoV-2 in vitro quando aplicado uma dose quase 18 vezes acima da dose terapêutica.

Mas o professor titular da Faculdade de Farmácia da UFMG, Gerson Pianetti, que atua no desenvolvimento de métodos analíticos para controle de qualidade de fármacos e medicamentos, explica que os resultados encontrados in vitro não se aplicam in vivo, ou seja, em seres humanos. “Aquilo que é feito in vitro somente é publicado para te dar um norte para saber se vale a pena fazer in vivo ou não”, completa o professor.

De acordo com ele, uma dose 18 vezes acima da terapêutica seria inconcebível para uso em seres humanos.

“Imagina o que acontece no seu organismo se você tomar uma dose. Agora imagina se você tomar uma superdose. A diferença entre o veneno e o medicamento é a dose”, ressalta.

Sem comprovação: Mais recentemente, estudo publicado na revista Revista da Associação Médica Americana (JAMA), que é uma das mais respeitadas do mundo, avaliou se a ivermectina resultaria na melhora dos sintomas das pessoas com covid quando usada nos primeiros dias de infecção. E o resultado foi de que o remédio não fez diferença quando usado precocemente. Então, se a pessoa não tiver sintomas graves, é porque isso já iria acontecer naturalmente.

“A Ivermetcina enquanto vermífugo que é, obviamente que as pessoas não vão ter verme. Mas não nos esqueçamos que, a partir do momento que um medicamento entra no seu organismo, ele afeta o circuito interno que, queira ou não queira, vai passar pelo fígado”, explica Pianetti. O professor afirma que já tem casos de hepatite medicamentosa por conta do uso excessivo do medicamento.

Cloroquina e hidroxicloroquina: Assim como a Ivermectina, a Cloroquina e Hidroxicloroquina também estão incluídas no “kit covid”. O uso dos medicamentos, indicados para tratamento de doenças como malária e artrite reumática, é alvo críticas de cientistas e entidades nacionais e internacionais, como a própria Organização Mundial da Saúde (OMS).

Não existe nenhuma comprovação de que os medicamentos atuem contra o coronavírus. Pelo contrário, já foi demonstrado em estudo feito em grupo de pessoas que a melhora no grupo que usou os medicamentos foi idêntica ao grupo que não tomou.

“Então, se não teve uma diferença estaticamente significativa, você descarta, porque não se toma medicação à toa, sendo que o medicamento vai fazer um efeito negativo em outra região do organismo”, recomenda Gerson Pianetti.

DANOS AO ORGANISMO: Nem três dias, nem um dia por semana, nem dia nenhum. Consumir medicamentos sem eficácia comprovada pela ciência pode causar prejuízos para o corpo. Para se ter uma ideia, neste mês, médicos do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e do Hospital da Universidade de Campinas (Unicamp) concluíram que o uso indiscriminado do medicamento Ivermectina levou pacientes a desenvolverem graves lesões no fígado, demandando até a necessidade de transplante.

“Se você vai tomar por conta de um problema de verme, toma dois ou três comprimidos e acabou. Agora esse pessoal que está tomando um por dia, durante 15, 20 dias, não sabem o que estão fazendo com fígado deles daqui para frente, porque vai ter comprometimento”, frisa o especialista.

De acordo com ele, o mesmo se aplica para a Cloroquina e Hidroxicloroquina, que podem levar a destruição do fígado e causar hepatite medicamentosa quando usados para finalidade diferente da prescrita na bula e tomados de forma exagerada.

“Não existe essa de que se bem não faz, mal também não faz, porque vai causar danos sim”, avalia.

Programa Saúde com Ciência: O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a quinta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify

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