São poucos grupos musicais que conseguem construir uma trajetória com quase 50 anos. Os integrantes da Banda de Pau e Corda se orgulham dessa proeza. Começaram em 1972, com o clássico Vivência, quando foram responsáveis por marcar uma certa temporalidade da música pernambucana na historiografia da música brasileira junto com nomes como Quinteto Violado, Alceu Valença e Geraldo Azevedo.
O desafio de manter acesa a chama dessa tradição está traduzida no título novo álbum do grupo, o primeiro em quase 30 anos: Missão de cantador. O disco chega em versão física e nas plataformas digitais pela Biscoito Fino.
Recentemente, toda a discografia do grupo foi disponibilizada nas plataformas digitais pela Sony, que tem os direitos do acervo da RCA Victor, antiga gravadora da banda. José Milton, responsável pelos primeiros álbuns do grupo e uma espécie de sétimo elemento, agora retornou para o novo álbum. A capa é de Elifas Andreato, que no passado assinou a arte de Arruar (1978). Entre as participações, Mestre Gennaro, Zeca Baleiro e Chico César, que sempre foram fãs da banda, além de Alexandre Rodrigues e Marcello Rangel, da nova cena autoral do estado. Corró Zabumbeiro, Raminho da Zabumba e Julio Cesar Mendes são os músicos convidados.
Tradição e modernização se encontram no projeto. A verve poética, as flautas e violas de um imaginário armorial e outros aspectos que sempre nortearam a banda foram conservados, ao mesmo tempo em que os arranjos delicados - em parte responsáveis por Zé Freire (violão e vocal) - fazem as canções dialogarem mais com novos discos autorais do estado. Das 13 canções, duas possuem assinatura de Waltinho, um dos fundadores da banda e arranjador de todos os trabalhos anteriores. Continua após a imagem
"Esses diálogos são frequentes, também trouxemos temas atuais. Acreditamos que vamos agradar os fãs tradicionais e também esse novo público", palpita Sérgio Andrade, o remanescente da Pau e Corda. Júlio Rangel (viola e vocal), Sérgio Eduardo (contrabaixo), Yko Brasil (flauta transversal e pífano) e Alexandre Barros (bateria, percussão e vocal) completam o time.
"Nos últimos anos, percebemos uma renovação de público nos shows pelo Brasil, sobretudo São Paulo e Minas Gerais. Os fãs vêm conversar e falam que amam a banda, pois foram apresentados pelos pais", conta Sérgio, relatando um tipo de experiência também vivida por nomes como Ave Sangria, que em 2019 lançou Vendavais. "Existe esse imaginário em torno da banda, então não poderíamos fugir daquela sonoridade que é tão característica nesse álbum. São quase 50 anos produzindo. Eu tinha 16 anos em 1972, hoje tenho mais de 60. Isso não é fácil. O Quinteto Violado também é um exemplo nesse sentido."
Sérgio sempre admite que o trabalho do Quinteto impactou muito a Pau e Corda, que seguiu pelo rumo daquela nova forma de cantar a música nordestina. "Nos diferenciamos nas composições e nos vocais. Quando o manguebeat surgiu nos anos 1990, acho que não conseguimos absorver bem aquela época. Houve esse hiato, e logo em seguida conseguimos refazer o nosso caminho até chegar aqui."
O produtor José Milton conheceu a Pau e Corda através de Toinho Alves, quando trabalhava para a RCA Victor. “Os conheci no carnaval de 1973 e logo convidei para fazer o disco. Em 1º de outubro, estávamos lá na RCA, com um disco bem recebido pela crítica e com texto de Gilberto Freyre na contracapa", lembra. "Fiquei muito feliz por ser chamado para o novo álbum, pois é sinal de que fizemos um bom trabalho. Mantivemos a qualidade, a sonoridade e entramos com o mesmo gás de quase 50 anos atrás. A Pau e Corda é um dos grandes nomes da música popular nordestina", finaliza.
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