Novamente a Diretoria de Memória, Educação e Arte da Fundação Joaquim Nabuco vai celebrar o 23 de abril, Dia Mundial do Livro. A II Festa Digital do Livro desta vez é temática, monográfica: As muitas vozes do livro. Com isto chama-se a atenção para a importância do seu acervo sonoro e os novos desafios editoriais e educativos.
Nunca é demais lembrar que o livro antes de ser escrito é palavra falada. O oral, mais do que o visual, fortalece a memória humana como um corpo indissolúvel cérebro-mente-espírito.
Ao estruturar sua programação em linguagem de rádio – nos tempos atuais, a maioria prefere anglicizar a coisa numa expressão da moda: podcast –, há o reconhecimento explícito do poder desse meio de difusão. Mesmo numa época de avassaladora multiplicação de imagens, a oralidade continua a ser indispensável.
Quem diz memória se reporta a história. Há, na Fundação Joaquim Nabuco, desde 1979, um programa de história oral no Cehibra. Materializado principalmente num conjunto precioso de entrevistas, de testemunhos políticos, sociais, culturais. Mais de mil e seiscentas horas de vozes gravadas podem ser livremente ouvidas por qualquer pessoa interessada na história do Nordeste do Brasil.
Tinha razão Carlo Levi na ideia de que o futuro tem um coração antigo. Novos nomes como podcast e a tecnologia que o abarca se ligam aos pioneiros de meados do século 19 nos experimentos de gravar e reproduzir os sons. Atualmente fala-se muito mais em inovar do que renovar, mas isto não é menos importante do que aquilo.
Em seus poucos mais de quarenta anos, o Cehibra busca a renovação. Em competências e técnicas. Para muitos renovar é sinônimo de modernizar. Neste caso os resultados devem suplantar a retórica. Em termos concretos, por exemplo, entrevistas ultrapassam já as novecentas. Há temas pra todo gosto. Da Chesf à imigração italiana, da mineração, do morro da Conceição no Recife às biografias de Ulysses Pernambucano e Aloisio Magalhães, das religiões afro-brasileiras às cenas musicais e as ecomemórias.
Embora pareça já muito, é apenas parte da riqueza do acervo sonoro. Há muito o que dizer sobre as coleções musicais, a fonoteca. Quando entrar setembro, essa outra parte terá uma festa própria, com a revelação dos vencedores de um concurso de frevo.
Sem falar, que há um trabalho em andamento de digitalização total do acervo sonoro da Fundação Joaquim Nabuco.
No dia 23 de abril, As Muitas Vozes do Livro são de escritores, atores, professores e outros profissionais cuja vida é voltada para ler, escrever, aprender e ensinar. A poesia tem um destaque, juntamente com os grandes clássicos na narrativa e a situação atual do livro. Além das “vozes” sem rostos, nos podcasts, no programa de rádio, outras “vozes” em vídeo estarão exaltando o livro. A websérie de quatro vídeos intitulada Livros & Leitores, também está marcada pela variedade. O tom é intimista e afetivo.
Leitores apaixonados falam sobre os livros que marcaram sua vida, suas primeiras leituras e experiências e aventuras nas reinações das palavras. O pintor José Cláudio – que também está na minissérie em podcast – discorre longamente sobre sua formação leitora, juntamente com Ana Mongini, Lourival, Georgia Alves, Zuleide Duarte, Maurício Melo Jr., Maria Betânia Andrade, Érica Montenegro, Maria do Rosário, Nayóbi Patrícia, Laianny Santana e Lucas Candido da Silva. Todos “emoldurados” epígrafes do cineasta Vladimir Carvalho e a escritora Lucilia Garcez.
Por fim, mas não menos importante, uma exposição virtual sobre o poeta e folclorista Mario Souto Maior.
Portanto, a Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte celebra o Dia Mundial do Livro triplamente. Com a II edição da Festa Digital do Livro sob a temática de As muitas vozes do livro. E também com uma webserie digital sobre o livro, em quatro vídeos no YouTube, realizada pela Massangana AudioVisual, e uma exposição virtual organizada pela Biblioteca Blanche Knopf, também nas redes sociais da Fundação (Instagram, entre outras).
Todas as horas do dia 23 de abril dedicadas ao livro. O livro que, diferentemente, da frase tão repetida, nunca é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. É vivo sempre, em todos os sentidos.
Mario Helio-Escritor e jornalista, diretor da Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte da Fundação Joaquim Nabuco
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