Da mesma forma que muitos brasileiros cuja juventude transcorreu a partir dos anos 1960, Caetano Veloso teve nas canções gravadas por Roberto Carlos uma referência para a vida.
“Se você pensa”, “Quero que vá tudo pro inferno” e “Curvas da Estrada de Santos” são as que marcam, para mim, a dimensão da potência de sua arte. Elas tinham o que faz de Roberto um caso de realização do domínio do folclore urbano internacional e um psicólogo social do Brasil, com uma contundência que nossa defensiva MPB estava longe de alcançar — revela Caetano, um dos poucos compositores que tiveram o privilégio de ser gravados por Roberto.
O Rei chega esta segunda-feira aos 80 anos como uma imbatível e insubstituível figura da cultura nacional: muitos tentaram, mas até hoje ninguém além dele pode ser reconhecido, dentro da música popular brasileira, como o cronista do sentimento nacional — a voz das canções que mais fundo tocam a psiquê coletiva, oferecendo conselhos, confessando-se humano também, irradiando empatia e falando de amor. No divã das músicas de Roberto, nada fica sem uma resposta amiga, sejam os traumas da infância, sejam os dilemas da paixão, os grilos do sexo, os mistérios da existência ou os desafios da fé.
Traduzindo, todo mundo tem uma canção de Roberto Carlos que parece feita sob medida. Como as 80 personalidades ouvidas pelo GLOBO, que escolheram a sua preferida entre tantas. Nomes como o amigo de fé Erasmo Carlos, o humorista Marcelo Adnet, a jornalista Mariana Gross e a cantora Marisa Monte, entre outros.
— Quando Roberto está falando da mãe em “Lady Laura” ele traz o que as pessoas sentem em relação às suas próprias mães. Há uma coisa importante, que é a sinceridade. Ele não grava uma música se não concorda com a mensagem — analisa o pesquisador Paulo Cesar de Araújo, que em junho lança mais uma biografia do Rei, “Outra vez (1941-1970)”.
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