O setor de eventos é um dos que mais está sofrendo com as restrições impostas para conter a pandemia de coronavírus. Em abril de 2020, 98% dos negócios do ramo tinham sido afetados pelas restrições, segundo levantamento do Sebrae.
Neste ano, espetáculos, feiras e congressos seguem sendo adiados. Representantes da categoria afirmam que os prejuízos são incalculáveis. Os profissionais técnicos são os que mais vêm sofrendo com a paralisação que já completa um ano.
No início da quarentena, os representantes do setor de feiras e congressos acreditavam em uma retomada ainda em 2020. Segundo Fátima Facuri, presidente da Abeoc (Associação Brasileira de Empresas de Eventos), os eventos estão marcados para o segundo semestre de 2021 e as empresas ainda acreditam na retomada.
No último ano, apesar das tentativas de realização dos eventos pela internet, o formato presencial se mostrou imprescindível para o mostruário de produtos e o networking.
“A gente não acredita em evento virtual porque não gera negócio. Imagine uma feira de cosméticos ou de equipamentos: como uma empresa vai fazer uma compra de milhões por uma plataforma virtual, sem ter tido contato com o produto?”, explica Facuri.
O setor destaca duas medidas do governo federal que auxiliaram os empresários na manutenção dos negócios. A primeira foi a possibilidade de redução e suspensão de salários dos funcionários. A segunda permitiu o reembolso não imediato dos valores de ingressos.
Uma terceira alternativa foram os bancos. De acordo com o Sebrae, 35% das empresas de eventos conseguiram levantar crédito para uso futuro.
Mesmo com essas alternativas, o setor iniciou 2021 na estaca zero. Todo o trabalho do ano passado se baseou no planejamento de uma retomada e é nela que os empresários ainda se apoiam.
“Temos uma perspectiva de retorno. Assim como os shopping centers puderam reabrir com todos os cuidados, a gente também acha que as feiras de negócios poderiam voltar. Inclusive, em alguns estados, como o Rio de Janeiro já chegaram a acontecer eventos do tipo”, afirma Facuri.
Equipes de elenco com vários atores. Peças canceladas. Alguns até tentaram voltar com alguns espetáculos presenciais, mas tiveram que cancelar de novo. Os espetáculos tradicionais são outro tipo de evento que está paralisado há quase um ano.
“Quando a gente fala de teatro, temos duas equipes diferentes: uma fica no escritório, é permanente, outra é a equipe maior que trabalha por projeto. Essa última é a mais afetada”, aponta Gabriel Fontes Paiva, presidente da Associação de Produtores de Teatro Independente (APTI).
Um exemplo dessa segunda categoria de profissionais são os técnicos: operadores de som, maquinistas, cenógrafos, figurinistas. Nenhum deles possui remuneração fixa. Todos estão sem possibilidade de trabalhar há um ano e, consequentemente, sem receber.
Houve algumas adaptações para formatos híbridos, com peças transmitidas pela internet. Essa foi uma alternativa para alguns atores, mas assim como no caso das feiras, a sobrevivência do setor como um todo depende ou de alguma retomada ou de novos incentivos.
Sobre profissionais fixos, o produtor de teatro comenta: “alguns escritórios tiveram que fechar e mandar embora toda a sua equipe. No caso do meu escritório, a gente manteve a mesma equipe trabalhando focada no que virá”.
LEI: A grande salva-vidas do teatro foi a Lei Aldir Blanc. Nos moldes do auxílio-emergencial, a lei promulgada em agosto possibilitou que os trabalhadores do setor cultural recebessem R$ 600 por mês, em três parcelas.
Os espaços artísticos e culturais, micro e pequenas empresas culturais, cooperativas e organizações comunitárias que tiveram as atividades interrompidas também receberam um subsídio mensal que variou entre R$ 3 mil a R$ 10 mil.
“Foi uma medida de ajuda emergencial, mas o setor já está novamente comprometido. Estamos há um ano nessa situação. Além disso, estamos enfrentando uma dificuldade muito grande com a principal lei de fomento à cultura, que é a Lei Rouanet, afirma Gabriel Paiva
LEIO ROUANET: O produtor se refere à suspensão da lei. Uma portaria publicada no Diário Oficial da União no início do mês que suspendeu a análise e aprovação de projetos de captação de verba via Lei Rouanet. Artistas de estados e municípios que restringiram a circulação de pessoas por causa da pandemia de covid-19 estão com os recursos congelados.
“A gente estava precisando de ajuda e acabamos recebendo algo que está dificultando ainda mais”, observa Paiva.
O ramo dos shows de comédia também sentiu falta da plateia, afinal, contar piadas para uma câmera é muito diferente de estar no palco.
Ainda assim, o audiovisual foi o que conseguiu salvar a lavoura nesse caso. Douglas Nascimento, fundador da Non Stop, que gerencia influenciadores como Whindersson Nunes e Tirullipa, conta como a empresa e os seus assessorados buscaram se reinventar: “nós conseguimos aumentar o nosso faturamento em publicidade e geração de conteúdo. Os artistas tiraram da gaveta projetos pensados para plataformas de streaming. Com isso, conseguimos suprir a falta de receita”.
Apesar dos bons resultados da empresa, Douglas acredita ser urgente a promoção de algum apoio à classe em geral. O empresário não enxerga uma possibilidade de retomada em curto prazo: “mesmo imaginando um cenário em que todo mundo conseguisse se vacinar no segundo semestre, a gente sabe que as pessoas foram impactadas. Quem ficou um tempo sem ganhar dinheiro não vai pensar em gastar com um evento logo de cara”.
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