Numa análise racional do momento político, os excessos e paixões tanto de um lado como de outro, são atitudes sempre inaceitáveis, porque tendem a perder a noção do equilíbrio e coerência desejados numa conversa democrática.
É de se lamentar, mas a realidade presente nesses diálogos, quase sempre, não é o reconhecimento de erros graves cometidos aqui ou acolá pelo governo atual, ou pelos que o antecederam, mas buscar, invariavelmente, alguns motivos que possam justificar e compensar, numa percepção de que o que mais importa é defender os princípios ideológicos de cada qual. Como disse o Marquês de Maricá: “Folgamos com os erros alheios, como se justificassem os nossos”! Parece uma profecia para toda uma vida...
Ao longo da semana a Pandemia e o seu assustador quadro de mortes, ao lado do colapso pela falta de vagas em UTIs dos Hospitais em todo o País, não permitiu que se alimentasse a esperança de uma breve superação desse quadro de angústia. Cada notícia de que pessoas estão morrendo nessa dolorosa espera, sem chegar, sequer, ao primeiro atendimento, é motivo de dor e lágrimas dos familiares e dos que têm a sensibilidade atingida duramente.
Numa variável de tudo isso, um fato gerado ao longo da semana no plano político e militar, instalou uma crise quase que estratégica – assim como preocupante -, e que desviou as atenções gerais sobre a tragédia viral. Há muito que não se vê num governo uma movimentação tão grande de Ministros, não só no curto tempo de cinco dias, como no período de dois anos de gestão! Enquanto nos governos anteriores, a Dilma fez 20 trocas na equipe, o Lula 11 e FHC 8, o governo Bolsonaro conseguiu superá-los, trocando 24 Ministros ou Secretários com o mesmo status, em apenas dois anos de mandato! Isso pode significar três coisas: deficiência no processo seletivo e de formação da equipe; excesso de poder, intransigência ou inabilidade na relação com os seus colaboradores; ou desmedida concessão aos apoiadores parlamentares, na pressão para promover substituições de nomes e ceder cargos no governo. Só sei que, por toda essa ótica, fica patente que essa insegurança e instabilidade não cheiram bem, administrativamente falando.
Embora o discurso de campanha e de início de governo tentou passar ao eleitorado a chegada de um novo conceito político e a vocação de uma governabilidade independente - por isso a expressiva votação -, inversamente, a prática mostrou que o “toma-lá-dá-cá” voltou a imperar. Para obter êxito na aprovação das reformas ou de eventuais projetos, os aliados do Centrão não permitem que o Governo se isole na máxima de que “antes só do que mal acompanhado”. E assim o desvio de rumo é fatal e consequente. Impressiona o tamanho da força política que essas figuras detêm, capaz de subjugar o ímpeto agressivo até de um Capitão Presidente!
Nada mais óbvio, porém, do que reconhecer o inquestionável poder do Presidente de exercer o direito de promover rotatividade na sua equipe, decisão que recebe o aplauso da população e dos críticos em geral, quando se torna evidente o perfil impróprio e o fraco desempenho de alguns Ministros, ou pesadas censuras quando o troca-troca exibe subserviência às pressões. Falar nisso, alguém sabe dizer o que tem feito de concreto o atual Ministro da Saúde?
No noticiário internacional da semana sobre o combate e contenção ao avanço do coronavírus, a França anunciou um novo Lockdown de 30 dias. Aqui, enquanto os registros indicam que o Brasil caminha para o trágico e desconfortável 1º. LUGAR em mortes, no mundo, parece irreal se continuar ouvindo o Bolsonaro declarar, com ênfase, que “o brasileiro tem de sair de casa”! Aliás, nesse campo, ele continua na contramão da história!
E nesse troca-troca de cargos no Poder, e nesse fecha e abre do lado de cá, a vida parece ter parado sem ideia de quando tudo voltará à normalidade.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – de Salvador – BA.
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