Semana passada a União de Negras e Negros Pela Igualdade-Juazeiro Bahia por meio de nota chamou à atenção para o equívoco, de acordo com a nota, do ato cometido pela publicidade da gestão da Prefeitura de Juazeiro, quando apresenta uma realidade distorcida acerca da população negra perante ao contexto pandêmico.
Segundo a nota, ao "contrário do que mostra a propaganda da prefeitura, a culpa da disseminação recaindo sobre nós, povo preto, quando na verdade somos as maiores vítimas da pandemia. Quem está promovendo festinhas particulares e aglomerando não é o povo preto pobre".
Nesta segunda-feira (29),o Movimento negro exige retirada de campanha publicitária racista divulgada pela prefeitura de Juazeiro (BA).
Confira Carta:
Movimento negro exige retirada de campanha publicitária racista divulgada pela prefeitura de Juazeiro (BA)
Queremos campanhas e ações de combate à pandemia. Não queremos campanhas racistas. Queremos respeito!
Nos últimos dias, a população negra de Juazeiro – que, segundo o IBGE/SIDRA corresponde a 73% - foi agredida publicamente pela Prefeitura Municipal com uma campanha de combate a pandemia por Coronavírus usando personagens negros(as), em destaque uma manequim negra, como exemplo de pessoa ‘irresponsável’, por não respeitar os protocolos de isolamento social e, consequentemente, responsável pela proliferação do Covid 19.
Nessa campanha pública, paga com recursos públicos, as mulheres negras são apontadas como irresponsáveis. Justamente um dos segmentos sociais que mais tem sofrido as consequências da falta de políticas públicas nesse um ano de pandemia. São as mulheres negras, as que mais perdem emprego e renda. Mas é a imagem de uma negra que a atual Prefeitura usa para representar as pessoas que fazem aglomerações e festas irregulares.
É preciso refletir sobre a armadilha semiótica dessa propaganda. A grande mídia e o poder público não questionam, por exemplo, o fato de que as pessoas que se aglomeram em transporte público - porque são obrigadas a trabalhar ou buscar o sustento - são negras. As expressões ‘irresponsável’, ‘erro’ e ‘culpa’ deveriam ser dispensadas ao Executivo Federal que, em um ano de pandemia, já está no seu quarto ministro de Saúde e, entre vários erros, permitiu que o número de óbitos ultrapassasse as 300 mil pessoas.
Os Movimentos Negros em Juazeiro têm desde o início da pandemia realizado campanhas não só de arrecadação de alimentos e materiais de higiene, mas promovido campanhas efetivamente educativas. Carros de som nos bairros, aulas públicas virtuais e outros conteúdos na internet são apenas alguns exemplos. Levamos pautas levadas às Prefeituras de Juazeiro (e também de Petrolina), desde abril de 2020, apresentando e explicando essas mesmas pautas em reuniões com as secretarias municipais, argumentando no sentido dos impactos benéficos de uma abordagem antirracista no combate à pandemia.
Em suma: os Movimentos Negros estão atuantes e alertas, e se colocando à disposição da luta contra a Covid-19 desde o início. Foram esses movimentos os responsáveis pela aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e de Combate ao Racismo Religioso nas duas cidades!!!. Em plena pandemia conseguimos aprovar essas duas leis fundamentais no combate às desigualdades históricas, que explodem durante a pandemia.
A melhor maneira do atual Governo Municipal se redimir dessa demonstração explicita de racismo é retirando essa campanha de circulação e pedindo desculpas, publicamente, ao povo negro, substituindo-a por peças publicitárias realmente educativas e que efetivamente promovam uma diversidade real e respeitosa.
Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Juazeiro (BA) – Compir
Frente Negra do Velho Chico
Coletivo de Assessoria Jurídica Universitária Popular Luiz Gama - CAJUP/UNEB
Associação São Bartolomeu
Pérola Negra – UNIVASF
Núcleo de Arte e Educação Nego D´Agua - Naenda
Coletivo. Abdias de Teatro Negro
Conselho de Segurança Alimentar de Juazeiro
Grupo de pesquisas Rhecados – Hierarquizações raciais, Comunicação e Direitos Humanos
Afoxé Filhos de Zaze
Coletivo Enxame
Coletivo Pretas, Pretos, LGBT+ e Periféricos
Íntegra da carta AQUI
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