Agronegócio: Chegada de águas do Rio São Francisco ao Castanhão deve gerar milhares de empregos no Ceará

27 de Mar / 2021 às 15h00 | Variadas

A sonhada chegada das águas do Rio São Francisco ao açude Castanhão – o maior da América Latina – se tornou realidade este mês, e os frutos desse marco já são prospectados pelo agronegócio.

Com o fortalecimento dos perímetros irrigados a partir do redirecionamento do volume hídrico, a expectativa é de geração de milhares de empregos e crescimento das exportações de alimentos e da oferta interna, o que, na avaliação do setor, deve contribuir para o arrefecimento dos preços dos produtos no mercado local.

O diretor institucional da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas (Abrafrutas), Luiz Roberto Barcelos, avalia que o barateamento dos alimentos é um dos impactos que podem ser provocados pela chegada das águas do São Francisco ao Castanhão e fortalecimento dos perímetros irrigados.

“Ajuda a exportação, mas sempre ajuda a baratear o preço no mercado interno, já que aumenta a oferta. Não se consegue exportar 100% do que se produz”, detalha Barcelos.

Barcelos lembra que o Ceará é grande exportador de melão e de melancia e que, no caso do melão, por exemplo, metade vai para exportação e a outra metade é para consumo interno. “Temos outros produtos como a manga, por exemplo, que não tem produção aqui hoje e que o Brasil exporta 15%. Na média, o Brasil exporta 3% do que produz e 97% fica no País. Depende muito do produto”, explica.

No caso do melão, metade do que é produzido é exportado, enquanto a outra metade é para consumo interno Foto: Natinho Rodrigues

O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Quixadá, José Amílcar Silveira, estima que o setor deve ganhar, somente nas áreas dos perímetros irrigados do tabuleiro de Russas e Jaguaribe-Apodi, 10 mil empregos diretos em cerca de um ano.

Ele também corrobora que o uso das águas do Castanhão pelo agronegócio e o redirecionamento do volume do São Francisco para o abastecimento de Fortaleza e região metropolitana ajudarão a elevar as exportações e oferta de alimentos.

Em matéria publicada pelo Diário do Nordeste este mês, a Associação Cearense de Avicultura estimou que os preços de produtos como o ovo devem continuar subindo este ano em decorrência do custo de produção, que aumentou 50%. O milho e a soja, produtos que são importantes componentes no cálculo do custo de produção das aves e ovos, tiveram forte fluxo nas exportações brasileiras desde o início da pandemia do coronavírus.

PRODUÇÃO DE ALIMENTOS: Presidente da Câmara Setorial do Agronegócio da Agência do Desenvolvimento Econômico do Ceará (Adece), Alexandre Fontelles avalia que o grande benefício da chegada das águas do São Francisco ao açude Castanhão é a liberação das águas do açude para a produção de alimentos. “As águas do São Francisco ficam direcionadas ao consumo em Fortaleza e do Complexo do Pecém”, diz.

“As águas originais do Castanhão sendo direcionadas para a produção de alimentos beneficiam a carcinicultura e a bovinocultura de leite, atividade presente em todos os municípios do Ceará e que é a ocupação de muitas famílias”, detalha.

“Essa produção de alimentos é muito importante, nós estamos precisando ampliar produção”, diz Fontelles, acrescentando que essa ampliação precisa ser incentivada.

“Por que não estimular o desenvolvimento da produção de alimentos no próprio Ceará, reduzindo o custo do frete e tornando os alimentos mais acessíveis? Geraria emprego e renda e evitaria o êxodo rural”, reforça.

MECANISMOS DE INCENTIVO: Fontelles pondera que o Governo do Estado precisa criar mecanismos de incentivo para o desenvolvimento da produção de alimentos. “Hoje a gente nota uma preocupação com a agricultura familiar, que seria de subsistência, mas não há uma preocupação para o seu desenvolvimento e não há a mesma atenção para aqueles que estão mais desenvolvidos, que são de médio e grande porte”, destaca.

José Amílcar Silveira também frisa que, com as águas do Rio São Francisco sendo direcionadas à Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), o volume do Castanhão fica disponível apenas para o abastecimento do setor agro, favorecendo a fruticultura, a carcinicultura e a pecuária leiteira.

“A Funceme (Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos) já anunciou que este ano é de chuvas abaixo da média, então as águas do São Francisco no Castanhão são fundamentais para o desenvolvimento dessas culturas e também para a pecuária leiteira. O nosso grande problema no Ceará é a insegurança hídrica, as pessoas que estão nos perímetros não tinham essa segurança. Com a transposição, passamos a ter”, explica Amílcar Silveira.

A chegada do Rio São Francisco ao açude Castanhão representa a garantia de segurança hídrica para 4,5 milhões de cearenses nas regiões do Cariri, Baixo e Médio Jaguaribe e Região Metropolitana de Fortaleza. No dia 1º deste mês, as comportas do Reservatório de Jati foram abertas e a água percorreu 294 quilômetros em 10 dias até chegar ao maior açude da América Latina.

Ele reforça que, hoje, os perímetros operam com até 25% da capacidade hídrica que possuem e mesmo assim a fruticultura na região é pujante.

“A fruticultura ali naquela região é muito forte, veja que mesmo na pandemia nós não sofremos tanto com os impactos”, pontua o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Quixadá.

DEFICIT HÍDRICO
Luiz Roberto Barcelos também reforça que “o Ceará possui um deficit hídrico enorme”. “Principalmente na região semiárida, por onde essas águas vão passar. Você tem chuvas normalmente médias, em um período concentrado do ano, de 600 a 700 milímetros, e nós temos uma evapotranspiração em torno de 2 mil milímetros todo ano, então quando se faz uma transposição como essa, são garantidas águas de outras bacias que não sejam água da chuva. Isso dá uma segurança hídrica para o estado”, afirma.

Não só a geração de empregos, mas de impostos e de divisas decorrentes das exportações são destacadas pelo diretor institucional da Abrafrutas. Ele também lembra que a segurança hídrica permite aos produtores um planejamento de longo prazo. “Vai ser muito bom para a acabar com a sede humana e nós precisamos de água para produção, geração de emprego, de impostos com produtos que vão para exportação, então geram divisas. É muito importante não depender só da chuva, porque cada ano é diferente e você não consegue planejamento de longo prazo sem segurança hídrica”, diz.

As frutas (frescas ou secas e nozes não oleaginosas) respondem por cerca de 15% da pauta exportadora cearense, considerando os envios ao exterior no primeiro bimestre de 2021. Dentro das exportações agropecuárias cearenses, as frutas são 94%. O mel responde por 4,5% e os outros produtos são cerca de 1,3%.

O presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Camarão, vinculada à Adece, Cristiano Maia, também pontua a importância de redirecionar as águas do São Francisco para o consumo em Fortaleza, preservando o volume do Castanhão para a agropecuária. “Para ser viável para o setor produtivo, a água de São Francisco deve ir para consumo humano e a do açude voltaria para o setor produtivo”, reforça.

Ele destaca que há fazendas de criação de camarão próximas ao açude que estão fechadas por falta de água. “Jaguaruana tem muita fazenda às margens do Jaguaribe, algumas possuem poços, mas a vazão é pequena. Essas fazendas de criação não estão operando em sua totalidade porque há pouca água, mas se elas operassem com toda a capacidade, gerariam mais emprego e renda”, arremata Cristiano Maia.

Ascom Abrafrutas e Diário do Nordeste

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