Madrugada insone, topo com Pedro Bial entrevistando um simpático senhor falando, pasmem, sobre a vida secreta das árvores. Seu nome, Peter Wohlleben, cientista, estuda “as descobertas de um mundo oculto” em livro que, publicado há pouco mais de três anos, vendeu mais de um milhão de exemplares e leva o leitor a entender o que sentem esses vegetais, lutando para sobreviver, ao lado dos humanos, e muitas vezes em competição com outras espécies.
Todos conhecemos o que, dos elementos da natureza disseram os poetas, tentando descrever suas mensagens ocultas, sua presença silenciosa, sua beleza. “Sem linguagem, sem fala, ouvem-se as suas vozes”, dizia David em um de seus Salmos.
Goethe conversava com a pequena rosa à beira do caminho, humilde e calada como a flor da estrada que Juan Ramón Gimenez mostrava ao burrinho Platero: suave e esguia, “sem se contaminar das impurezas do mundo” vivendo pouco tempo, sua vida como um dia de primavera, mas podendo ser “a todo instante, o singelo e perene exemplo de nossa existência”.
Augusto dos Anjos chorava pela árvore da serra, caída aos golpes do “machado bronco” paterno. Olegário Mariano imagina o exemplo da árvores felizes “dentro da solidão da noite morta” e mesmo sentindo o drama que há no fundo das raízes, continuam dando sombra às taperas no abandono. Ursula Garcia chora a morte da cajazeira secular que conheceu menina.
O livro do cientista alemão vai além do que sentem os poetas. Afirma que as árvores se comunicam, se relacionam, formam famílias, cuidam dos filhos, possuem memória, defendem-se das pessoas. Algumas são solitárias, outras são seres sociais, só conseguem se desenvolver plenamente em comunidade. Como seres humanos, conseguem se adaptar a determinados ambientes. E, como as estrelas de Bilac, conversam entre elas.
Pedro Bial perguntou a Wohlleben: “Você pode ouvir as árvores conversando?” A resposta: um sorriso e mais. “Para entender a conversa das árvores entre elas e conosco, devemos aprender sua linguagem”. E aconselha aos prefeitos, responsáveis pelo bem estar das árvores e das pessoas nas cidades: “Plantem pequenas florestas nas praças e não apenas árvores solitárias”. Para a felicidade da vida vegetal e dos seres humanos. A vida secreta das árvores, traduzido em várias línguas, foi publicado no Brasil e pode ser encomendado via internet. A não se perder.
Luzilá Gonçalves Ferreira-Membro da Academia Pernambucana de Letras
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