No momento em que o Brasil bate sucessivos recordes de óbitos pela covid-19, um novo risco surge: o de um iminente colapso do sistema funerário em todo o país. Foi com essa preocupação que o neurocientista e pesquisador da Universidade Duke, nos Estados Unidos, Miguel Nicolelis falou ao CB.Poder exibido na última quarta-feira (24) — uma parceria entre o Correio e a TV Brasília.
“Eu sei que se nada for feito para conter a transmissão do vírus e o colapso hospitalar nacional, nós podemos atingir meio milhão de óbitos ainda este ano. Aliás, a nível de agosto, segundo as previsões... Já existem várias estimativas de que para o final de julho nós podemos chegar a meio milhão de óbitos. Isso seria absolutamente assustador e devastador para um país como o nosso”, detalhou.
Em 4 de janeiro deste ano, uma postagem do pesquisador viralizou nas redes sociais. “Acabou. A equação brasileira é a seguinte: ou o país entra num lockdown nacional imediatamente, ou não daremos conta de enterrar os nossos mortos em 2021”, escreveu, em tom de desabafo. Passados quase três meses, o prenúncio não apenas se confirmou como o cenário agora é de um futuro pior. Nicolelis prevê que uma crise do sistema funerário em todo o Brasil pode transformar 2021 em um ano ainda mais devastador.
“Infelizmente, não só nós podemos chegar, como já existem sinais de que ela (a crise funerária) está começando. Em algumas cidades pequenas e mesmo em Porto Alegre, uma grande cidade que está tendo grande dificuldade no manejo das vítimas; em São Paulo, o atraso nas filas dos cartórios, na rotina de enterros... A gente não gosta de falar disso e é um tópico extremamente chocante, mas, na situação em que o Brasil chegou, esses cenários têm que ser estudados, têm que ser difundidos, e medidas preventivas têm que ser adotadas imediatamente”, anunciou.
Além da questão humanitária de ter milhares de famílias que não conseguirão mais sequer enterrar seus mortos, em um cenário no qual já não podem se despedir deles, esse novo colapso traz outro risco biológico para o país.
“No momento que você cai nesse segundo abismo de uma pandemia fora de controle, o grau de infecções bacterianas graves que se proliferam, as contaminações do solo, do lençol freático, de alimentos, aumentam em várias ordens de magnitude a pandemia e os efeitos sociais, econômicos e até políticos. Isso já ocorreu no passado e é muito mais difícil de sair desse outro patamar de gravidade do que do patamar que nós estamos”, explicou.
De acordo com ele, ainda há saídas que podem ser implementadas imediatamente para evitar o terror que se aproxima. “Nós já estamos em uma situação crítica no Brasil, mas ainda existem ferramentas que poderiam ser usadas imediatamente para tentar desafogar o sistema de saúde nacional e tentar aliviar e quebrar rapidamente a taxa de transmissão do vírus”, determinou.
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