Essencial para o metabolismo ósseo e para o auxílio na manutenção de massa muscular, a vitamina D tem forte relação com a imunidade do organismo humano. Mas, mais que isso, ela pode contribuir para a prevenção de infecções por Sars-Cov-2 – vírus causador da COVID-19 – ou de quadros mais graves da doença. É o que aponta um estudo brasileiro realizado pelo geriatra e professor da Unifesp Alberto Frisoli.
A pesquisa, feita no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, com 200 pacientes, teve início com o objetivo de analisar a relação entre a falta da vitamina D e a contaminação por COVID-19 em idosos. Com previsão para ser finalizado no segundo semestre de 2021, os resultados do estudo até então são promissores, segundo o pesquisador.
“Os pacientes que participaram do estudo apresentavam elevado percentual de suplementação de vitamina D. A deficiência de vitamina D foi associada ao maior tempo de internação, maior chance de ir para UTI e tendência para insuficiência renal aguda, fator determinante para levar o paciente a sessões de hemodiálise. A maioria dos pacientes que morreram tinham na admissão baixos índices de vitamina D. Os baixos níveis de vitamina D também estavam associados aos altos índices de substâncias inflamatórias, como interleucina 6”, explica.
Porém, Alberto Frisoli pontua que ainda se faz necessário o desenvolvimento de novos e mais profundos estudos, a fim de entender os impactos e diferenças no que diz respeito à contaminação pelo novo coronavírus por pacientes que tomam vitamina D para aqueles que não tomam. É o chamado estudo controlado.
“O mesmo deverá ser feito com pacientes hospitalizados, no qual a vitamina D deve ser avaliada de forma isolada e em conjunto com outros medicamentos, para que se possa entender qual o efeito e como ele ocorre.”
Ele, inclusive, lembra que outros estudos feitos com vitamina D no Brasil e no mundo ainda apresentam resultados controversos. “Alguns estudos com populações pequenas sugerem que uma dose elevada de vitamina D pode ter algum benefício em pacientes graves, já o estudo publicado na revista "Jama – Journal of American Medical Association –" mostrou que não tem efeito no tempo de hospitalização e mortalidade, quando dada a vitamina no início da internação.”
“Então, do ponto de vista simplificado, temos aqui uma inconclusão a respeito disso. Isso porque o estudo brasileiro não levou em consideração o uso de medicamentos durante a internação nem dosagem desses medicamentos. Por exemplo, o uso de corticosteroides pode interferir significativamente na taxa de sobrevida dessas pessoas, bem como no período de hospitalização. Pontos como esse ainda não nos permitem fazer muitas conclusões, por isso ainda são necessários mais estudos”, frisa.
Além disso, segundo um artigo publicado pela revista científica "The Lancet", o papel da vitamina D na resposta à infecção por COVID-19 pode ser duplo: apoiar a primeira defesa do organismo ao vírus, que inclui a produção de peptídeos antimicrobianos no tecido das vias respiratórias, protegendo o organismo da invasão do vírus causador da doença e, no segundo momento, promovendo a redução da resposta inflamatória à infecção.
MITOS E VERDADES: A vitamina D é essencial para o organismo, e isso não é novidade. Essa, inclusive, é uma verdade quase irrefutável. Isso porque ela fortalece os ossos, auxilia na manutenção de massa muscular, age na promoção de imunidade, estimula a ação de antibióticos naturais e modula receptores do sistema respiratório, portas para a entrada de vírus como o causador da COVID-19. Não à toa, a vitamina D é crucial para evitar o acometimento respiratório.
“Estudos têm demonstrado que a suplementação de vitamina D de longo prazo e de forma adequada parece auxiliar na prevenção de infecções respiratórias agudas de algumas populações, como gripe e pneumonia”, justifica o pesquisador.
Mas diversos mitos podem surgir em torno da vitamina D e, em casos como os da pandemia, confundir a população sobre as verdadeiras formas de prevenção. Não à toa, apesar dos resultados apresentados pelas pesquisas, Alberto Frisoli destaca que ela nunca deve substituir nenhuma medida protetiva contra o novo coronavírus. “A vitamina D não vai e nem deve substituir o uso da máscara, a manutenção do distanciamento social, o uso de álcool em gel e a vacinação.”
Outra polêmica em torno da vitamina D é sobre a quantidade de ingestão adequada ou se, independentemente da dose, o corpo vai estar protegido e pronto para agir contra uma possível infecção por COVID-19 ou demais doenças. Por isso, a recomendação do professor é: “Sempre se dirija a seu médico para saber qual a dose de vitamina D que deverá ser utilizada e nunca por conselho ou sugestão de outros”.
Em caso de infecção, a ingestão de vitamina D não deve ser iniciada por contra própria, pois ela não é tratamento para a doença. “A utilização de vitamina D vai depender do médico e isso deve ser conversado com ele sobre vantagens e benefícios. Não devemos, principalmente numa época de crise, utilizar suposições e transformá-las em verdades. Mais do que nunca a ciência tem que ser utilizada como uma referência”, lembra.
Uma grande verdade é: a vida saudável ajuda muito, principalmente quando atrelada à exposição solar – sempre lembrando dos cuidados com a pele e corpo. “Sempre que puder, mantenha seus hábitos saudáveis. Atividade física, alimentação saudável e saúde mental são fatores fundamentais. Se puder, associe atividade física à exposição solar, pois assim você trabalha uma soma de fatores benéficos para o corpo, mantendo seu bem-estar e as defesas contra possíveis infecções respiratórias”, reforça.
Isso porque, de acordo com o Ministério da Saúde, a vitamina D pode ser adquirida pela exposição ao sol. Além disso, alimentos como leite integral, fígado e peixes de águas profundas são boas fontes dessa vitamina. Suplementos, sempre sob prescrição médica, também podem ser bons aliados.
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