Um ano após o Brasil registrar as primeiras mortes por covid-19, o país tem recorde de vidas perdidas. O acumulado de óbitos desta semana epidemiológica foi o maior da história da pandemia.
O Brasil registrou na terça-feira um recorde de 2.841 mortos pelo novo coronavírus nas últimas 24 horas, 555 a mais do que o recorde anterior, do último dia 10, confirmando as piores previsões sobre uma pandemia fora de controle no primeiro dia de gestão do novo ministro da Saúde.
O país soma 282.127 mortos por Covid-19, número que cresce rapidamente desde o começo de fevereiro, com uma média de 1.965 mortes diárias nos últimos sete dias, segundo o Ministério da Saúde. No começo do ano, a média de sete dias era de 703 mortos.
O aumento de 18,7% na média de casos em relação à semana passada é um indicativo de que essa escalada de infecções resultará em mais mortes. As projeções do Portal Covid-19 Brasil, iniciativa formada por pesquisadores das universidades de São Paulo (USP) e de Brasília (UnB), estimam que o Brasil alcance os 300 mil mortos pelo novo coronavírus até 22 de março.
Na comparação mundial, o Brasil também se destaca negativamente. Apesar de ter menos de 3% da população global, acumula 9,5% dos casos e 10,3% das mortes pela covid-19.
A situação é ainda mais crítica ao observar o iminente colapso do sistema de saúde, tanto público quanto privado.
De acordo com o último boletim Infogripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 20 das 27 unidades federativas registravam taxas de ocupação de UTIs acima de 80%. Diante da indicação de sobrecarga e colapso de sistemas de saúde, os pesquisadores reforçam a necessidade de ampliar e fortalecer as medidas de distanciamento, uso de máscaras e higienização das mãos. “Além disso, é necessário o reforço da atenção primária e das ações de vigilância, que incluem a testagem oportuna de casos suspeitos e seus contatos”, afirmam.
Em meio aos movimentos de lockdown adotados por estados e municípios, o governo federal liberou esta semana uma portaria para financiar mais 3,9 mil leitos em municípios de 21 estados. São R$ 188,2 milhões para manter os equipamentos e equipes funcionando por 90 dias.
A primeira morte em decorrência do novo coronavírus confirmada no Brasil ocorreu em 12 de março de 2020, mas o registro foi atualizado somente em junho daquele ano. Até então, acreditava-se que o óbito número 1 tinha ocorrido em 16 de março. Com as atualizações, descobriu-se, ainda, meses depois, que outras duas pessoas morreram na mesma data, em 16 de março, e outra em 15 de março. O primeiro caso de covid-19 no país foi anunciado semanas antes, em 26 de fevereiro de 2020.
De olho no oxigênio
Em meio a explosão de internações por covid-19 no Brasil e o histórico da tragédia em Manaus, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu que as empresas fabricantes do oxigênio medicinal devem manter o órgão informado sobre os estoques desse item, importante para pacientes internados com o novo coronavírus.
Publicado pela Anvisa em edição extra do Diário Oficial da União (DOU) de ontem, o edital estabelece que, semanalmente, essas empresas precisam repassar informações sobre a capacidade de fabricação, envase e distribuição, estoques disponíveis e quantidade demandada pelo setor público e privado, considerando os escopos de atuação de cada uma. A orientação vale para fabricantes, envasadoras e distribuidoras do equipamento, nas formas líquida e de gás.
Segundo a agência, a medida visa minimizar o risco de desabastecimento do produto. Com isso, informou a Anvisa, o Ministério da Saúde poderá ter previsibilidade sobre o abastecimento de mercado, permitindo a adoção, em tempo hábil, das medidas necessárias à garantia de fornecimento do oxigênio medicinal.
Na parede
A capital do Amazonas, Manaus, foi palco de um grande colapso pela falta de oxigênio no início do ano. O governo federal enfrenta no Supremo Tribunal Federal (STF) um inquérito que apura se o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, foi omisso no enfrentamento da pandemia na localidade. Pazuello prestou depoimento à Polícia Federal em fevereiro para explicar a sua atuação na crise, na qual dezenas de pacientes morreram asfixiados em razão do desabastecimento de oxigênio.
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