A cardiologista Ludhmila Hajjar afirmou à CNN que recusou o convite para assumir o Ministério da Saúde "principalmente por motivos técnicos". Ela disse ainda ter sofrido ataques e ameaças de morte depois de ser cotada para ocupar o cargo.
"Fiquei muito honrada pelo convite do presidente [Jair] Bolsonaro, tivemos dois dias de conversas, mas infelizmente acho que esse não é o momento para que eu assuma a pasta do Ministério da Saúde por alguns motivos, principalmente por motivos técnicos", afirmou, em entrevista nesta segunda-feira (15).
"Sou médica, cientista, especialista em cardiologia e terapia intensiva, tenho toda minhas expectativas em relação à pandemia. O que eu vi, o que eu escrevi, o que eu aprendi está acima de qualquer ideologia e acima de qualquer expectativa que não seja pautada em ciência", completou.
Hajjar se encontrou pessoalmente com o presidente Bolsonaro no domingo (14). A médica tem uma linha de postura de combate ao coronavírus que defende o isolamento social e a vacinação em massa da população.
A médica deixou afirmou ter deixado claro ao presidente sua divergência em relação a dois pontos específicos: o tratamento precoce e a possibilidade de decretar lockdown em alguns casos.
"Algumas medicações pregadas, como a cloroquina, ivermectina, azitromicina, o zinco e a vitimina D já se demonstraram não ser eficazes no tratamento da doença (...) Muitos de nós prescreveram cloroquina. Eu mesmo já falei isso: eu também [prescrevi]. Até que fomos lidando com os resultados que a ciência nos trás e inúmeros estudos vieram para nos mostrar, de maneira definitiva, a não eficácia desses tratamentos. Isso é algo que eu pontei e é um assunto do passado, afirmou.
Ele disse acreditar que, hoje, o que o país precisa para combater a pandemia é se pautar em evidências científicas, atender melhor as pessoas com diagnóstico precoce, um programa de vacinação em massa, e a união em relação ao discurso "para que as pessoas, realmente, entendam e não subestimem a doença".
Sobre o lockdown, ela afirmou que já foi demonstrado cientificamente que é uma medida que salva vidas. "Claro que um país continental como o Brasil, com mais de 200 milhões de pessoas, não tem que decretar um lockdown nacional (...) Tem que ser pautada em decisões técnicas", defendeu.
Hajjar disse acreditar que o presidente está preocupado com o país e que encontrará uma pessoas que "esteja alinhado com esse discurso, com aquilo que o governo pretende, e que vai dar certo para salvar o Brasil".
"O presidente que está preocupado com o Brasil, entende a necessidade de mudança, de salvar as pessoas, sem dúvida. Mas é claro que ele tem os posicionamentos dele, a visão dele, e isso tem que ser respeitado, é o líder maior da nação."
Ela também afirmou que o atual ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, participou do encontro dela com Bolsonaro, no domingo (14).
"Ontem [domingo] ele participou de toda a conversa, fez um balanço da gestão, me pontuou os principais desafios, então ele realizou um trabalho e vem realizando um trabalho que acredita, que trouxe algum resultado e se colocou á disposição de quem quer que seja a próxima pessoa a assumir sua cadeira", disse.
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