O Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Consuni/UFRJ) aprovou o título póstumo de doutora honoris causa a Carolina Maria de Jesus (1914-1977), autora de Quarto de despejo.
Negra, catadora de papel e moradora de favela na capital paulista, a escritora foi homenageada por sua luta e coragem. A decisão foi aprovada por unanimidade e aclamação entre os conselheiros da universidade. Maria Carolina de Jesus se mudou de Minas Gerais para São Paulo aos 30 anos. Filha de analfabetos e natural de Sacramento (MG), ela aproveitava os papéis que catava para escrever e, assim, produziu seu primeiro e mais famoso livro, Quarto de despejo.
A vida e a obra da escritora foram temas de 58 teses e dissertações nos últimos seis anos, segundo informações da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
A honraria Honoris Causa, que significa “por causa de honra”, é concedida independentemente da instrução educacional a quem se destacou por suas virtudes, méritos ou atitudes.
Carolina Maria de Jesus dizia que o Brasil deveria ser governado por alguém que já passou fome. Para Carolina, a vida tinha cores, mas, normalmente, essa não é uma referência positiva. A fome, por exemplo, é amarela. Em um trecho do primeiro livro, a autora discorre sobre o momento em que passa fome. “Que efeito surpreendente faz a comida no nosso organismo! Eu que antes de comer via o céu, as árvores, as aves, tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos.”
Catadora de papel e ferro velho, Carolina relatava seu cotidiano para criar os três filhos em 35 diários, todos escritos em cadernos com folhas em brancos que encontrava “no lixo”. Os livros também resgatados no trabalho como catadora ela lia para os filhos, enquanto sonhava em publicar suas memórias.
Até a casa em que a família vivia, na antiga Favela do Canindé, às margens do Rio Tietê, era um barraco construído com madeira, latas, pedaços de telha e outros materiais que Carolina encontrava na rua.
Em 1958, o jornalista Audálio Dantas trabalhava em reportagem na região do Canindé e conhece a autora, seus escritos e a transforma em personagem de suas matérias. Foi a partir daí que os cadernos de Carolina se transformaram em um livro: Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada (1960), que era inspirado em frase de Carolina: “A favela é o quarto de despejo da cidade”.
Antes de morrer, em 1977, Carolina ainda escreveu outros três livros.
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