*Por Paulo Hansted
Na indústria das smart cities, conceito urbano que tem sido utilizado com frequência nos últimos anos para diretrizes urbanas focadas em sustentabilidade e funcionalidade, há um ramo focado na interatividade nos grandes centros urbanos. Cidades interativas que propõe uma relação ainda mais próxima com a sua população. Enquanto o conceito smart cities diz respeito à tecnologia aplicada à infraestrutura (trânsito, energia, construções mais sustentáveis, segurança, entre outros), as cidades interativas focam na relação das pessoas com o espaço urbano, colocando o ser humano em primeiro lugar.
Os próximos anos, motivados pela pandemia que paralisou as nossas vidas por um bom tempo, serão de muita reflexão sobre os nossos valores e, principalmente, sobre o nosso papel na sociedade. A incerteza e a instabilidade nos obrigaram a fazer uma revisão na relação com tudo o que dá sentido as nossas vidas. Pessoas, trabalho, o que nos faz feliz ou não, e até mesmo a cidade em que vivemos. Analisando todos esses aspectos, dos conceitos relacionados as cidades interativas até o nosso papel social, chegamos aos alicerces que irão nortear nossa vida em grandes centros urbanos no pós-pandemia.
Uma coisa é certa: A tecnologia será protagonista destas evoluções e a importância de humaniza-la será essencial para reinventar a relação das pessoas com o ambiente urbano. Estimular o reencontro no mundo real, a recuperação da autoestima, a descoberta de coisas que sempre estiveram ali, mas nunca demos muito valor, e por consequência disto tudo, a retomada do comércio, economia e prosperidade de forma socialmente mais responsável.
1 – Tempo/Conveniência: as experiências trazidas pela pandemia mostram que as pessoas estão buscando ganhar tempo. A conveniência vai ganhar um valor muito forte. As pessoas estarão dispostas a pagar mais por coisas que as fazem ganhar tempo para usá-lo, seja de forma mais produtiva ou no que dá mais sentido às suas vidas. Os aplicativos de delivery, por exemplo, chegaram para ficar.
2 – Raízes/Pertencimento: a pandemia mudou a relação com as nossas raízes. A cabeça estava sempre pensando no amanhã, no que eu podia fazer mais. Desde então, houve valorização de negócios locais, mais conexão com os vizinhos e ampliação do sentimento de pertencimento ao bairro ou à origem.
3 – Esperança/Solidariedade: muitas pessoas adotaram espírito solidário, tentando ajudar mais, ser mais participativo na sociedade. Nós percebemos que nossa atitude implica em tudo aquilo que nos cerca.
4 – Humanidade: houve disposição para usar a tecnologia como um mecanismo para valorizar as conexões humanas, resgatando amigos/pessoas que não eram procuradas há anos, além de uma tentativa de ter mais tempos com a família ou amigos.
5 – Casa: o ambiente onde nós estamos ganhou um valor sem precedentes. Houve uma reorganização maior da percepção da casa em função do home office, já que as pessoas estão passando mais tempo em suas casas. A percepção de valor, de segurança e de importância destes espaços se ampliou. É meu lugar de abrigo, mas também onde trabalho.
6 – Felicidade: as pessoas passaram a buscar aquilo que faz sentido para suas próprias vidas. Tínhamos perdido a conexão com isso. Vivíamos na inércia. Houve uma percepção de que a felicidade está em coisas pequenas ou próximas e haverá mais valorização de fatores que estavam esquecidos.
Paulo Hansted é CEO do MCities (www.mcities.com.br), startup com foco em inovação, comunicação e inteligência urbana
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