Uma das enfermidades mais antigas do mundo, a hanseníase é uma doença infecciosa crônica que afeta a pele e o sistema nervoso periférico em membros, cabeça, mãos e pés, ocasionando perda de sensibilidade, dormência, ardor e, em muitos casos, manchas claras ou vermelhas pelo corpo.
Seu diagnóstico é, essencialmente, feito por meio de exame clínico no consultório médico, pois não há exames laboratoriais disponíveis que atestem com precisão a ocorrência da doença.
Elaborar um teste rápido e simples para diagnóstico da hanseníase é o objetivo da proposta de pesquisa de um grupo de docentes do Campus Paulo Afonso da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) que foi aprovada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), na Chamada Nº 2/2020 - Programa Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS/BA).
O projeto “Desenvolvimento e validação de tecnologia para auxiliar no diagnóstico precoce da hanseníase no contexto da Atenção Primária à Saúde” é coordenado pela professora do Colegiado de Medicina, Iukary Takenami, e conta com a participação da professora Maria Augusta Vasconcelos Palácio, também do Colegiado de Medicina do Campus Paulo Afonso, e de pesquisadores do Centro Universitário do Rio São Francisco (UniRios), do Serviço de Dermatologia e Pneumologia Sanitária da Secretaria Municipal de Saúde de Paulo Afonso, e da Fiocruz – Instituto Gonçalo Moniz (IGM/BA). A equipe do projeto é composta também por quatro estudantes de graduação da Univasf e da UniRios e um doutorando da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP).
O estudo pretende desenvolver um teste sorológico do tipo Elisa que permita identificar no sangue do paciente a presença de anticorpos antifosfolipídeos, existentes na parede celular do bacilo Mycobacterium leprae, causador da doença, também conhecido como bacilo de Hansen. A professora Iukary Takenami relata que a pesquisa irá investigar o sangue de pacientes com hanseníase e com outras doenças dermatológicas, como vitiligo e pitiríase que também provocam lesões na pele, e de pessoas saudáveis para dosar a quantidade de anticorpos antifosfolipídeos.
Segundo a pesquisadora, as pessoas que tiverem a maior quantidade desses anticorpos presentes são pacientes com hanseníase. “Se conseguirmos identificar e quantificar esses anticorpos com a metodologia que estamos propondo, ela poderá ser uma provável ferramenta auxiliar para o diagnóstico da doença”, explica. A pesquisa terá duração de dois anos e será realizada no Laboratório de Estudos Aplicados à Saúde (LEAS), no Campus Paulo Afonso da Univasf.
“A hanseníase é uma doença endêmica no Brasil e em várias cidades da nossa região, inclusive Paulo Afonso, e nosso objetivo com a pesquisa é contribuir para a realização de um diagnóstico precoce que possibilite evitar sequelas para o paciente, já que a doença é tratável e tem cura”, explica a professora Iukary. O diagnóstico da hanseníase é feito pelo médico por meio de testes de sensibilidade, palpação de nervos e avaliação da força motora, entre outros. De acordo com a docente, as ferramentas laboratoriais disponíveis atualmente não fornecem resultados conclusivos ou não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), a exemplo da baciloscopia e da biópsia, respectivamente.
Considerada um problema de saúde pública no Brasil, segundo país no mundo em número de casos, atrás apenas da Índia, a hanseníase pode causar vários problemas associados, como cegueira, infertilidade e deformidades físicas, se não for tratada. Também provoca uma pesada carga emocional no paciente, devido ao preconceito que envolve a doença, transmissível de uma pessoa para outra por meio do contato direto com a saliva ou com secreções nasais. A transmissão é interrompida quando o paciente está em tratamento.
O projeto de pesquisa da Univasf, cujas atividades deverão ter início no mês de março, além de propor o desenvolvimento da ferramenta diagnóstica, pretende mapear a ocorrência da hanseníase em Paulo Afonso, identificando sua distribuição espacial e possíveis fontes de contágio na cidade. “Nosso objetivo a partir desse levantamento é propor mais medidas de saúde pública que sejam efetivas para combater a doença na região de Paulo Afonso”, afirma a professora Iukary.
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