Depois do deleite favorecido pelos encantos do Luar do Sertão, crônica da última semana, volto a circular pelos tortuosos meandros do mundo político, cujo comportamento de muitos dos seus principais agentes está revestido de inverdades e hipocrisias, que maculam a confiança e a credibilidade que deveriam repassar ao povo brasileiro. Mas, diante desse espectro dominante de tal mundo, uma postura de repúdio tem de ser concreta e efetiva, principalmente se buscarmos inspiração no belíssimo pensamento do Rev. Martin Luther King, in memoriam: “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”. Essa é, realmente, a preocupação de todos nós!
É profunda a reflexão que a frase sugere, visto que não deve preocupar, jamais, o grito dos opositores de fato e que foram derrotados nas urnas – não significa dizer que são todos “maus” –, porque, divergir e se opor no campo político, são características inerentes ao processo democrático. O que surpreende e inquieta é “o silêncio dos bons”, que se empolgam e se influenciam por uma mídia de redes sociais voltada à construção de uma falsa imagem de “mito”, vindo a padecer de uma cegueira onde excessos e omissões não são considerados.
Esse enfoque se torna impositivo, ao se analisar o quão grave é a realidade atual que o Brasil está vivenciando, com escassez de vacina que possa apressar a redução do elevado número de infectados, além de milhares de mortes. Ainda no mês de agosto chegou a ocorrer a negociação com a Pfizer para a compra de 70 milhões de doses e não houve qualquer empenho ou interesse do governo em fechar o negócio, visto que, àquela altura, a vacina ainda era motivo de gracejo nas entrevistas e nenhuma pressa por parte de certas autoridades federais. Virou até piada geral a grotesca insinuação de que poderia interferir no DNA das pessoas ou até virar jacaré! Agora que está sentindo a necessidade de correr atrás, os Laboratórios estão comprometidos com outras nações. E, mais uma vez, ficamos para trás por exacerbada “santa ignorância”!
Não obstante o contexto que envolve o país, dói no âmago das pessoas ter a percepção de que são outras as prioridades do Presidente - além da visível campanha em curso para a reeleição em 2022 -, como assinar quatro Decretos que alteram toda a regulamentação vigente sobre o uso de armas e munições no país, os quais permitem, entre outras normatizações, o seguinte: ampliação da posse de 4 para 6 armas para aqueles detentores do porte; a condução de duas armas em trânsito; aumenta a quantidade de posse de munição; e algumas armas que antes eram de uso exclusivo das Forças Armadas, agora passam a ser de uso de algumas categorias dos que possuem porte. Então, cabe uma pergunta elementar: Que tamanha necessidade é essa por algo tão secundário?
Com tantas prioridades sanitárias a exigirem urgência de planejamento, e dedicação oficial mais intensa e eficaz, essa atenção é desviada para ações sem maior importância ou direcionadas ao atendimento dos interesses de fabricantes de armamentos, e ampliar o nível da arma para alguns segmentos, o que, obviamente, por tabela, favorecerá à criminalidade.
Quando tanto se fala no combate à violência e à preservação da vida, sai um infeliz encaminhamento federal no sentido exatamente contrário. Ora, se houve reação oposta aos Decretos, até mesmo por parte dos parlamentares partidários do Governo, entristece imaginar qual será a repercussão internacional por tão absurda e esdrúxula decisão, que poderia até passar despercebida se adotada em outra oportunidade, jamais no presente momento, quando a principal arma que se precisa tem o nome de VACINA!
O cargo de Presidente da República é revestido de uma liturgia própria e que deve inspirar respeito e admiração dos cidadãos do país, independentemente da posição político-ideológica do seu ocupante. Este sim, é que deve ter a consciência do grau de responsabilidade do cargo que representa, estabelecendo limites nos seus atos e palavras.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – de Salvador - BA.
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