Quase um ano depois do primeiro caso de COVID-19 no Brasil, o novo coronavírus impôs ao país um outro drama, o da mutação, e está devastando grandes cidades de todas as regiões do país, como mostra levantamento feito pelo Estado de Minas, que reuniu indicadores acelerados da doença respiratória em 10 municípios: Araraquara e Jaú, em São Paulo; Salvador e Feira de Santana, na Bahia; Chapecó (SC), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Porto Velho (RO), Santarém (PA) e Uberlândia, no Triângulo Mineiro.
Em muitas cidades, a curva de transmissão segue em patamar alto com reflexos na ocupação crítica de leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs). Prefeitos temem que se repitam as cenas vistas em Manaus, onde pacientes infectados morreram em casa, sem a opção de atendimento na rede hospitalar saturada.
Os governos da Bahia e do Ceará decretaram toque de recolher para tentar deter a transmissão do coronavírus. Na Bahia, a medida valerá por sete dias, das 22h às 5h, em 343 municípios, onde o comércio e as empresas prestadoras de serviços terão de encerrar atividades até 21h30, assegurando a volta para casa de seus empregados. O toque de recolher já vale no Ceará, entre 22 h e 5h, e se estenderá pelos próximos 10 dias. O comércio só poderá funcionar até 20h.
O quadro da doença pode se agravar nos próximos dias, na avaliação do presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), César Eduardo Fernandes.
Ele lembra que a desassistência enfrentada por Manaus já pode ser observada em várias regiões do país, até mesmo em cidades ricas, como Araraquara, em São Paulo. “Em outubro e novembro, tivemos queda significativa no número de casos. A leitura que fizemos, de gestores, e a população, é de que estávamos vencendo a pandemia e o vírus estava nos dando adeus. Ledo engano. Não é nada disso”, afirma. No entanto, ele afirma que a situação atual é muito mais preocupante. “Hoje vivemos uma situação muito pior, em relação ao que tivemos na primeira onda.”
A AMB criou força-tarefa para atuar no Norte do Brasil, escalando 30 médicos que foram para o Amazonas. “Manaus e Porto Velho estão com demanda máxima de leitos de UTI. Estão em processo contínuo de ampliação de leitos de UTI”, destaca o coordenador da força-tarefa, Fernando Sabia Tallo, especialista em terapia intensiva, anestesiologia e clínica médica. O grupo conseguiu abrir duas unidades de terapia intensiva com 22 leitos cada uma nos hospitais Plantão Aristóteles e Newton Lins.
O secretário de Saúde de Salvador, Leonardo Prates, se queixa do corte de recursos do governo federal para financiar leitos de UTI. O secretário afirmou que, desde janeiro, o município não recebe recursos da União para este fim. A única forma de barrar a doença tem sido adotar de medidas rígidas de isolamento social.
“A gente espera que a população entenda as medidas restritivas que estamos adotando, porque a nossa capacidade de expansão de leito está chegando ao fim, estamos fazendo mais do que podemos”. Em reunião com os governadores os chefes estaduais de Saúde se queixaram da falta de verba para os leitos de UTI, como relatou o secretário.
Em várias cidades, os prefeitos estão adotando medidas de distanciamento social mais rígidas, como por exemplo a decretação do toque de recolher.
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