Live-show comemora 80 anos do poeta e compositor baiano José Carlos Capinan

15 de Feb / 2021 às 22h30 | Variadas

Autor de clássicos como Ponteio, com Edu Lobo, que venceu o III Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record, em 1967; Soy Loco por Ti América, com Gilberto Gil, incluído no clássico disco manifesto Tropicália ou Panis et Circencis, e Papel Marchê, com João Bosco, entre tantas outras canções que marcaram a MPB, o poeta, compositor e médico José Carlos Capinan comemora dia 19 de fevereiro 80 anos.

O músico e compositor baiano José Carlos Capinan será homenageado na próxima sexta-feira (19), às 19h com uma live-show que reunirá arte, conversa e música. Estão confirmadas as presenças dos artistas Jards Macalé, Roberto Mendes e Gereba.

O evento online “Palco Aberto Boca de Brasa” será transmitido no perfil do Muncab no Youtube e contará com a apresentação do jornalista Leonardo Lichote, especialista na área músical. Na ocasião, também será realizado o lançamento da edição do Caderno de Músicas - revista mensal focada em MPB e uma minissérie onde Capinam narra o surgimento das principais canções dele.

O evento é realizado pelo Muncab (Museu Nacional da Cultura Afro-brasileira), a Amafro, o Espaço Cultural Boca de Brasa, da Prefeitura de Salvador, e conta com co-realização da Nubas e da Estandarte Produções e apoio do Caderno de Música.

Confira texto da jornalista Eliete Negreiros, Revista Piauí:

Algumas músicas causam tal impacto na vida da gente que se tornam um marco. Talvez pela capacidade que têm de expressar, de modo poético, o espírito de uma época, ou o alumbramento de um instante, ou alguma verdade que estava ali, dispersa. Quase como uma magia, muitas canções são, assim, a expressão de uma infinidade de sentimentos, emoções, impulsos, pensamentos, uma iluminação interior, ordem sutil no caos que se move dentro da gente.

José Carlos Capinan, quando compôs Movimento dos barcos, deu voz a uma geração, ao estado de espírito de uma época, que assumia a mudança e a transformação como filosofa de vida. E era a minha geração. Ansiávamos por mudanças na estrutura familiar, na sociedade, no modo de ser e de estar no mundo. Queríamos abrir a boca e falar daquilo que se passava conosco, quebrar a casca da aparência que estava sufocando a exuberância, da nossa juventude. Queríamos um mundo mais fraterno, mais justo. Tanta miséria, tanta desigualdade, tanta opressão. Haveria de ter um outro modo de mundo e de ser da gente… Anos 70.

Fizemos dos amigos nossa família. Misturamos política e existencialismo e vivemos todos os conflitos que disso resultou. Queríamos abraçar o movimento, passar junto com o tempo – as coisas passando eu quero / passar com elas, eu quero / e não deixar nada mais do que as cinzas de um cigarro / e a marca de um abraço no seu corpo não. Transitoriedade, transformação, impermanência, descoberta de si, do outro, do mundo, mudança de costumes. Antropofagicamente, nos apropriamos do lema da revolução francesa: liberdade, igualdade, fraternidade, sob um outro ângulo, sob o sol dos trópicos, terra brasilis.  Não sou eu quem vai ficar no porto chorando, não / lamentando o eterno movimento / movimento dos barcos, movimento.

Como cantei e toquei esta canção, incontáveis vezes. Por um tempo foi minha voz, a voz do meu ser, foi o meu hino, ou melhor, foi meu mantra. Chegava em casa, pegava o violão e ficava cantando. Uma oração. E também como a escutei…  Bethânia, Macalé. Jards Macalé e Capinan.  Nosso poeta Capinan e sua sabedoria. E eu também não queria ficar no porto chorando, não, lamentando o eterno movimento, movimento dos barcos, movimento. Queria celebrar a passagem dos dias e das horas, as coisas passando, eu quero / passar com elas, eu quero:

A poética de Capinan é multifacetada, tanto na temática quanto na forma. Há canções com temas regionais, que falam do Nordeste, como Ponteio, Viola Fora de Moda, com influência da literatura de cordel – Disso eu me encarrego / Moda de viola / Não dá luz a cego, ah, ah, e outras de um lirismo puro de estórias encantadas que lembram as brincadeiras da infância no sertão, como Cirandeiro  – Ó cirandeiro, ó cirandeiro, ó, a pedra do seu anel / brilha mais do que o sol.

Redação redeGN com informações Revista Piauí

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