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Sou profissional da enfermagem há nove anos, com experiências nos diferentes setores e áreas da saúde. Nesse momento me solidarizo com vítimas e familiares que sofrem ou sofreram perdas em decorrência da COVID-19. Sou empático também com os colegas que trabalham na linha de frente, direta com o vírus, com os de forma indireta, e com demais profissionais da saúde que atuam no setor complementar.
Atualmente, trabalho em uma clínica na cidade de Petrolina –PE, e resido em Juazeiro-BA. Desde que iniciou a pandemia temos sofrido juntos: recepcionistas, enfermeiros e técnicos, médicos, serviços gerais, administrativo. Enquanto o mundo parou e tudo fechava, nós da rede privada, de clínicas ambulatoriais, de diagnóstico, laboratórios, serviços de fisioterapia etc. procuramos nos adequar ao momento, e permanecemos trabalhando, por entender que somos sistema de saúde complementar. UPAS e hospitais das duas cidades tem executado o bom papel de acolher pacientes nesse momento difícil. E nós, continuamos a dar assistência a pacientes cardíacos, oncológicos etc. não paramos, para que não se interrompa tratamentos, para que não se interrompa a vida.
Todos os dias, nós, de clínicas e laboratórios, dos demais serviços de saúde, pegamos condução lotada. Recebemos pacientes e acompanhantes, fazemos triagem, damos assistência, temos contato direto com pacientes 44h semanais. Gente que assim como nós, independente do estado de saúde, podem ou não transmitir a COVID, ou, ser contaminados por nós. Essa discussão não cabe esse julgamento. Mas é para dizer o quanto nos expomos no nosso trabalho ao atender dezenas de pacientes ao dia, centenas de pacientes ao mês, sem faltar um dia de trabalho, apesar dos nossos medos, apesar de também termos os nossos amores, o paciente "é o amor de alguém", nós também somos o amor de alguém, alguém que deixamos em casa é o nosso amor. A gente está aqui cuidando, e quem está cuidando da gente em Juazeiro e Petrolina?
Até o momento desde o início da vacinação, eu e mais de 20 funcionários não fomos imunizados. Alguns como eu, moram em Juazeiro e trabalha em Petrolina. Juazeiro já iniciou a vacinação com a vacina de Oxford, mas, segundo contato com o Angari (UBS) as doses estão disponíveis para funcionários de clínicas da rede privada da cidade baiana, somos profissionais de saúde, mas não podemos nos vacinar na cidade que a gente vive, vota etc.
Petrolina disponibiliza cadastro on-line para agendar vacinação, ao exigir endereço, deixa subentendido que a vacina é para trabalhadores da saúde que moram na cidade.
A empresa que trabalho enviou há dias a lista de funcionários, até agora nem notícias se seremos vacinados, e se sim, quando seremos? Pelo cronograma juazeirense eu já estaria vacinado, mas me negam o direito na cidade onde nasci e vivo. Na cidade que trabalho e com minha força de trabalho ajudo a impulsionar a economia, gerar receitas, meus colegas e eu continuamos a exercer a profissão da enfermagem, da medicina, de recepcionista, de auxiliar de serviços gerais etc. recebendo pacientes e fazendo fichas, triando e puncionando, medicando e auxiliando em exames, realizando coletas, consultando etc. Continuamos aqui, trabalhando por nossos pacientes, porque precisamos (por isso nos submetemos aos riscos), também porque o câncer, doenças cardíacas e outras, não esperam, não sabem o que é quarentena, pandemia. E cada paciente que sofre, vê no nosso trabalho um pouco de alente e esperança.
Me dirijo às Prefeituras de Juazeiro e Petrolina, e digo: cuidem dos seus cidadãos, cuidem dos profissionais de saúde que trabalham e vivem em suas cidades. Por fim... mediante ao exposto, quando seremos vacinados? Eu enfermagem do serviço complementar não ligado à linha de frente COVID, mas, que me exponho a centenas de pessoas mensalmente, e aglomeração em razão da profissão, sendo juazeirense, mas trabalhando em Petrolina, serei vacinado quando? Serei (seremos) esquecido (os) pelas duas cidades? A gente está aqui cuidando de cada juazeirense e petrolinense, dos moradores das cidades vizinhas e até de outros estados. Pergunto: quem está cuidando da gente?
Peço sigilo, não quero me expor em razão de resguardar o nome da empresa onde trabalho, que não mede esforços em nos oferecer segurança para trabalhar, não tenho que reclamar dos meus patrões que são conhecidos, e também porque temo represália por parte dos órgãos municipais envolvidos nessa reclamação. Apenas busco uma solução para uma inquietação não só minha, mas, de todos os profissionais de saúde da rede privada, especialmente nós, juazeirenses que trabalhamos em Petrolina, pois, ficamos com a sensação de total esquecimento do órgão máximo em saúde das duas cidades.
Um profissional da saúde
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