Depois de se reunir com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) fez duras críticas ao governo Bolsonaro.
O encontro serviu, justamente, para driblar a postura ideológica do presidente Jair Bolsonaro e do ministro das Relações Exteriores, Ernesto de Araújo, contra o maior parceiro comercial do Brasil.
O receio era de que o mal estar político pudesse ter levado ao atraso da exportação dos insumos para fabricação do imunizante CoronaVac contra a covid-19 no Brasil. A reunião aconteceu na manhã desta quarta-feira (20/1).
“Isso (os ataques) está no Twitter do filho do presidente (Eduardo Bolsonaro) e do ministro das Relações Exteriores. Esse conflito existe. Tanto que estão me perguntando se o conflito é político ou não. Senão não estávamos falando nisso. O embaixador deixou claro que de forma nenhuma o atraso das exportações tem relação com isso. A gente tinha clareza disso. A China sabe, como eu disse, que a maioria da população brasileira precisa da vacina, dos insumos, e sabe da importância da relação bilateral do Brasil e China para todos os brasileiros. O agronegócio é a prova disso. Aliás, o setor que Bolsonaro tem mais apoio é o setor que tem o maior benefício na relação comercial entre Brasil e China”, provocou.
De todo o festival de ataques já feitos à China por autoridades brasileiras e pessoas próximas ao presidente Jair Bolsonaro, nenhuma causou tanta perplexidade em Pequim como uma "live" feita em abril do ano passado por Abraham Weintraub e pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
O filho "03" do presidente recebeu o então ministro da Educação para uma conversa transmitida em suas redes. No auge das medidas de isolamento social para conter o avanço da pandemia, Weintraub disse que considerava alta a possibilidade de uma nova doença infecciosa surgir na China ao longo dos próximos anos. E explicou as razões de sua aposta: os chineses comem "tudo o que o sol ilumina" e não como os brasileiros, nas palavras dele, que "criam porco no chiqueiro."
Para os chineses, conforme ouviu o Valor de representantes de Pequim, foi a declaração mais ofensiva de um funcionário do governo Jair Bolsonaro até hoje. No entanto, ela acabou sendo ofuscada por um episódio do dia anterior, também com Weintraub como protagonista. O então ministro, hoje diretor-executivo do Banco Mundial indicado pelo Brasil, havia tuitado na véspera um desenho em que o personagem Cebolinha trocava as letras R por L, ao falar da pandemia, para ridicularizar o sotaque chinês.
Na China, disse Weintraub na conversa com Eduardo Bolsonaro, os animais ficam mais expostos e em contato com humanos: "Isso que você vê no YouTube não é fantasia, é realidade. Quando você entra em um mercado de Hong Kong, tem um monte de bicho vivo". Em seguida, ele completou: "Porco, aqui [no Brasil], a gente cria no chiqueiro. A população está quase toda urbanizada. Não cria frango e porco em casa".
Para concluir seu raciocínio, lembrou já ter passado uma temporada de estudos na China e que seus amigos locais lhe explicaram sobre os hábitos alimentares: "A gente come tudo o que o sol ilumina. E às vezes, o que o sol não ilumina, também come."
Eduardo chamou o Sars-CoV-2, causador da covid-19, de "vírus chinês" e interrompeu ironicamente seu entrevistado quando Weintraub disse que a gripe espanhola teve origem em porcos. Dando risada, ele cortou o ex-ministro: "Não pode falar em espanhol, não, porque é racismo, hein?."
Os representantes da China no Brasil viram essas falas como as mais ofensivas até agora, mas também destacam, como problemáticos, episódios como as menções do chanceler Ernesto Araújo ao "comunavírus" para ressaltar as origens chinesas do Sars-CoV-2 e insinuar o espalhamento proposital do coronavírus como forma de acelerar transformações na geopolítica internacional — suspeita fortemente repudiada por Pequim.
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