Enquanto o Brasil vive um gravíssimo recrudescimento da pandemia, com milhares de vidas ceifadas, e com indicadores epidemiológicos de forte tendência à piora nas próximas semanas, trava-se no governo e na sociedade discussão sobre escolha e estratégia de vacinação de viés político, ideologizada, anticientífica, que em nada contribui.
Há até colegas médicos respeitáveis que vêm a público declarar que não tomarão e não recomendam ninguém a tomar vacina alguma, principalmente “a chinesa”.
Tendo em vista que quanto maior e mais precoce a adesão ao programa de vacinação, mais rápido ocorrerá o controle da epidemia, entendo essa atitude de transmitir insegurança às pessoas como um grave desserviço à população, na sua grande maioria leiga em medicina.
Costumo dizer aos meus alunos, que todo ato médico, desde a indicação de uma grande cirurgia, até a simples prescrição de uma aspirina, deve obedecer a uma avaliação de risco versus benefício. Pois todos têm algum preço, alguma possibilidade de efeito colateral. Mas, no caso em tela, será que o risco crescente que a população está correndo - sem falar na questão econômica, com a Covid se espalhando, não seria infinitamente maior do que o oferecido por qualquer dessas vacinas?
Por isso, ouso dizer que, muito pelo contrário, diante da tragédia em curso, atalhos deveriam ser tomados e etapas deveriam ser puladas nos protocolos de pesquisa e validação das vacinas. E que, idealmente, como no Reino Unido e na Rússia, a vacinação já devia estar acontecendo no nosso país.
Por outro lado, o fato é que qualquer das quatro vacinas que já estão em fase de produção em escala assistencial - e não apenas experimental, inclusive a Coronavac, de origem chinesa, produzida em parceria com o renomado Instituto Butantã, de São Paulo, passaram por todos os protocolos de segurança, com baixíssimas taxas de efeitos colaterais e níveis de eficácia acima dos habitualmente obtidos com vírus semelhantes.
Portanto, caberia à Anvisa aprovar as quatro em rito de urgência, porque já devidamente testadas, e ao governo federal, de forma transparente, abrir o processo de aquisição da que estivesse mais ao seu alcance, levando em consideração principalmente a rapidez na disponibilização para toda a população brasileira com indicação de recebê-la.
Cláudio Lacerda-Cirurgião. Professor da UPE
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