Primeira mulher de que se tem conhecimento a tocar uma sanfona de oito baixos nos anos 50 foi a cantora e compositora Chiquinha Gonzaga, irmã do Rei do Baião Chiquinha Gonzaga, irmã do Rei do Baião Luiz Gonzaga nasceu no dia 11 de dezembro de 1925.
Nesta sexta-feira, 11, se fosse viva estaria completando 95 anos. Chiquinha costumava dizer em vida: "É preciso manter a tradição de meu pai Januário, o maior sanfoneiro de oito baixos que o Nordeste já teve".
Generoso, disposto a arrumar trabalho para a família inteira, Luiz Gonzaga criou o grupo Os Sete Gonzagas, formado por ele, o pai e mais cinco irmãos, incluindo, mesmo sob os protestos de dona Santana.
A cantora e compositora Francisca Januária dos Santos, Chiquinha Gonzaga, "partiu para o Sertão da Eternidade, aos 85 anos, no ano de 2011, era a caçula dos irmãos de Luiz Gonzaga.
Em vida sua história foi marcada por desafios. Chiquinha enfrentou o machismo da sociedade. Irmã de Luiz Gonzaga, também seria vítima do mesmo tipo de preconceito ao arriscar as primeiras notas na sanfona de oito baixos do pai, mestre Januário. Proibida de tocar pela mãe, Dona Santana, Chiquinha só aos 74 anos gravou um disco inteiro dedicado a sanfona de 8 Baixos. Méritos de Gilberto Gil que bancou a idéia, produziu o CD e encorajou sua volta aos palcos.
Chiquinha e o compositor baiano ficaram amigos durante as filmagens, de "Viva São João!", documentário dirigido por Andrucha Waddington. No filme, um entusiasmado relato das festas juninas em 19 cidades do Nordeste, os dois visitam Exu, cidade da família Gonzaga, e relembram histórias do rei do baião e do sertão pernambucano. Na oportunidade Gilberto Gil prometeu que iria ajudar Chiquinha a voltar a gravar.
Devoto do baião, Gil já tinha feito o mesmo agrado ao irmão mais velho de Chiquinha, mergulhado no ostracismo no fim da década de 60, depois do surgimento da bossa nova e da jovem guarda. O compositor baiano gravou "17 Légua e Meia", antigo sucesso de Gonzagão, no álbum "Gilberto Gil" - que contém "Cérebro Eletrônico"-, em 1969. Outro tropicalista, Caetano Veloso (exilado em Londres), repetiria a homenagem dois anos mais tarde, numa histórica regravação de "Asa Branca".
O álbum "Pronde Tu Vai, Luiz?", lançado de forma independente, conta com a participação de Gilberto Gil na faixa-título, originalmente gravada por Gonzagão em 1954, num dueto com a irmã. Há outros convidados ilustres, como o tocador de gaita e acordeonista gaúcho Renato Borghetti, mas quem brilha mesmo é Chiquinha.
Chiquinha Gonzaga participou com a família, do show de lançamento da TV Tupi e gravou cinco LPs (Filha de Januário, em 1973; Xodó na Rede, em 76; Penerou Xerém, em 78; Chiquinha Gonzaga e Severino Januário e Forró com Malícia, ambos em 80). Em 2002 gravou o CD Pronde tu vai, Lui?, com participação de Gilberto Gil. Estrela em programas de rádio, apresentou-se em Nova York e, de tão bem que dançava o forró, ficou conhecida como pé de ouro.
Chiquinha nas suas conversas contava que esperava os pais partirem para o trabalho na roça para que ela pudesse pegar a sanfona num canto do quarto de Seu Januário. A farra durava pouco. Quase sempre era pega em flagrante pela mãe. "Larga isso, menina! Isso é coisa pra homem!", censurava Dona Santana.
A emancipação só veio em 1949, quando Luiz Gonzaga, já desfrutando da fama de sanfoneiro no Rio de Janeiro, como autor de "Baião", "Asa Branca" e "Juazeiro", comprou um caminhão e mandou buscar a família em Exu (Gonzagão queria que os parentes viajassem de avião, mas Seu Januário, indignado - ou com medo-, disse que não era urubu para andar pelos céus).
Tanto Seu Januário como Dona Santana, enraizados em Pernambucano, nunca pensaram em deixar o Estado. Achavam, aliás, que o Sul do país não era lugar para o "menino" Luiz se aventurar.
Mudaram de idéia e foram para o Rio de Janeiro. A viagem para o Rio de Janeiro durou vários dias ("tinha até fogão dentro do caminhão", lembrava Chiquinha), mas valeu a pena, principalmente para a jovem cantora.
A popularidade do irmão explodiu na década de 50 e Chiquinha, mesmo sem tocar sanfona, passou a cantar forró em pequenas casas noturnas do Rio. No embalo do irmão gravou cinco LPs e estrelou programas de rádio.
Chiquinha sempre lembrava de histórias curiosas dessa fase. Como chegou a desfrutar de um relativo sucesso, algumas pessoas passaram a confundi-la com a musicista carioca de mesmo nome, morta 20 anos antes, em 1935. "Eu achava que esse tipo de confusão nunca aconteceria. Mas ficava assustava quando pediam para eu cantar 'Ô Abre-Alas' (marcha carnavalesca de estrondoso sucesso, composta em 1899)", recorda-se Chiquinha.
Gonzagão, principal incentivador da irmã e seu padrinho musical, tratou de desfazer a confusão. Passou a apresentá-la aos donos de casas noturnas e empresários como "Chiquinha Gonzaga, a Cantadora de Forró". Ela lembra que, mesmo assim, sempre havia alguém que estranhava a ausência do piano clássico no palco.
"É preciso manter a tradição de meu pai Januário, o maior sanfoneiro que o Nordeste já teve", dizia Chiquinha, cantarolando "Respeita Januário", um dos grande sucessos de Gonzagão: 'Luiz, respeita Januário/ Luiz, respeita Januário/ Luiz, tu pode ser famoso mas teu pai é mais tinhoso/ E com ele ninguém vai, Luiz/ Respeita os oito baixo do teu pai/ Respeita os oito baixo do teu pai."
"Chegou a hora de respeitar os oito baixos da irmã de Luiz Gonzaga, o eterno Gonzagão", brincava a cantora."
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