O botânico Ricardo Cardim, responsável por fazer o registro da maior árvore pau-brasil do país, que possui mais de 500 anos, em Itamaraju, sul da Bahia, atribuiu a sobrevivência da árvore a "intervenção divina". Ele concedeu entrevista nesta quinta-feira (10) ao Jornal da Manhã, da TV Bahia.
"[Foi] uma intervenção divina. Ela está a poucos quilômetros da BR-101, ela passou por todo o ciclo da madeira do sul da Bahia, nos anos 70, 80 e 90. A gente está diante de um verdadeiro milagre da natureza. É uma arvore que tem uma genética importantíssima. Ela sobreviveu aos séculos, chegou a um tamanho enorme, mesmo com muitas adversidades", afirmou.
Ricardo explicou o quão importante foi a descoberta da árvore, que possui 7,13 metros de circunferência.
"Primeiro que é a árvore símbolo do nosso país. É uma árvore que começou a ser derrubada assim que os portugueses chegaram no Brasil. Sobreviver uma árvore desse tamanho é algo inédito. A gente não encontra literatura que mencione árvores do pau-brasil desse porte. E ela pode gerar descendentes muito importantes e pesquisa científicas", disse o botânico.
Ricardo contou também toda a história de como a árvore foi encontrada. Tudo começou quando ele estava realizando pesquisas para seu livro, intitulado "Remanescentes da Mata Atlântica - As Grandes Árvores da Floresta Original e Seus Vestígios".
"Quando a gente começou as pesquisas para o livro, lá em 2016 e 2017, a gente procurou por todo o Brasil aonde estavam as maiores árvores da Mata Atlântica original, e ficamos sabendo que existia o maior pau-brasil no assentamento Pau Brasil, que até saiu num filme em 2019, chamado 'Árvore da Música. Em 2018, estivemos no assentamento, em Itamaraju, e encontramos o que até então era o maior pau-brasil", falou.
A árvore possuía 4,30 metros de circunferência. Em novembro deste ano, contudo, Ricardo recebeu a informação de que existia um outro pau-brasil ainda maior no local.
"Esse ano, a gente voltou ao assentamento e ouviu do guia Anderson Matos que tinha uma lenda que existia um pau-brasil ainda maior, na floresta do assentamento, que tinha sido encontrado por 'seu' Manoel [Manoel de Jesus, agricultor e dono do assentamento]. Combinamos de procurar essa árvore, o Anderson e 'seu' Manoel procuraram e encontraram ela. A gente voltou ao assentamento pra conferir, e o resultado está aí: uma arvore magnífica, única", acrescentou.
Após sobreviver a mais de cinco séculos, a árvore, segundo o botânico, está sendo bem cuidada no assentamento.
"Os assentados são zeladores dela hoje. hoje ela está bem cuidada com eles. É um milagre ela ter sobrevivido a cinco séculos de ferro e fogo, de destruição de anos na Mata Atlântica, que hoje só tem 12%", concluiu.
Para o agricultor Manoel de Jesus, a árvore foi um tesouro encontrado no assentamento.
"Eu fiquei muito satisfeito quando eu descobri que ela é uma grande campeã. Fiquei muito satisfeito", disse. "Eu tenho um 'tesourinho verde' da natureza", brincou o agricultor.
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