Mais de dois mil bancários da Caixa Econômica Federal aderiram ao Programa de Demissão Voluntária (PDV) aberto este ano pelo banco para a redução do quadro de pessoal da instituição, responsável pelo pagamento do auxílio e do FGTS emergenciais além de outros benefícios a mais de 120 milhões de pessoas — metade da população brasileira.
Com a saída destes milhares de empregados pelo PDV, o déficit de trabalhadores da empresa pública se aproxima de 20 mil, colocando em risco real a capacidade e a qualidade da assistência à sociedade, conforme alerta a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae).
“É preocupante o desligamento desses trabalhadores sem uma indicação do banco para a contratação de novos empregados”, destaca o presidente da Fenae, Sergio Takemoto. “Além de piorar as condições de trabalho, a falta de bancários pode prejudicar o atendimento à população; especialmente, neste momento de pandemia”, afirma.
Até o encerramento do PDV no último dia 20, o déficit no quadro de pessoal da Caixa já superava 17 mil profissionais. A empresa, que chegou a ter 101,5 mil trabalhadores em 2014, conta atualmente com 84,2 mil empregados. Apesar disso, o banco trabalhava com a estimativa de desligamento voluntário de 7,2 mil trabalhadores, este ano.
“Felizmente, a quantidade de desligamentos [2,3 mil, segundo a direção da Caixa] não atendeu às expectativas. Mas o impacto vai ser grande”, adianta o presidente da Fenae. “O banco precisa de mais trabalhadores”, reforça Takemoto.
Nesta quarta-feira (25), a Fenae e a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Confraf/CUT) lançaram um abaixo-assinado em defesa de contratações na estatal. O documento já conta com 873 assinaturas (até as 16h30 de hoje). “A Caixa precisa de mais empregados para atender bem a população brasileira. Mais empregados para a Caixa. Mais Caixa para o Brasil”, destaca o abaixo-assinado.
Esta semana, durante a apresentação dos resultados do banco no terceiro trimestre deste ano, o presidente da instituição, Pedro Guimarães, disse que o desligamento dos 2,3 mil bancários “dá uma economia da ordem de R$ 580 milhões por ano". A conselheira de Administração da Caixa (CA/Caixa), Rita Serrano, observa que a perda dos empregados “tem um custo”.
“Se para o banco isso [PDV] é uma economia, para os trabalhadores é uma perda em saúde, qualidade de vida e trabalho. É um absurdo”, afirma. “Entendo que a Caixa precisa repor essa mão de obra para continuar sendo um banco fundamental para o país e ter condições de atender a população; inclusive, em situações de calamidade pública, como agora”, emenda Serrano.
POSSIBILIDADE DE FILAS — A coordenadora da Comissão Executiva dos Empregados da Caixa (CEE/Caixa) e secretária de Cultura da Contraf, Fabiana Uehara Proscholdt, observa que a redução do quadro de pessoal também influencia na formação de filas. "É preciso convocar os aprovados no concurso para repor o quadro", ressalta.
O presidente da Fenae também alerta para essa possibilidade. “O número de casos de covid-19 está aumentando em diversos estados brasileiros. Se houver um novo ciclo de pagamento do auxílio emergencial, e defendemos que ele aconteça, as aglomerações vão voltar às agências, pois haverá ainda menos trabalhadores para atender a população”, pontua. “Desligar mais de dois mil empregados sem ter um plano de reposição é, no mínimo, um ato irresponsável não só com os empregados da Caixa mas também com os milhões de brasileiros que dependem desses recursos”, completa Sergio Takemoto.
No Acordo Coletivo de Trabalho 2014/2015, a direção da Caixa Econômica — por força de decisão da Justiça — se comprometeu a realizar duas mil contratações. Trezentos bancários foram convocados no último mês de maio para atuarem no Norte e no Nordeste. Contudo, o número está longe de ser o ideal, segundo apontam a Fenae e outras entidades representativas da categoria.
Além da falta de empregados, o banco — de acordo com o balanço do terceiro trimestre divulgado nesta semana — ainda fechou 796 postos de trabalho, em doze meses. Destes, 30 foram reduzidos entre os últimos meses de março e setembro, em plena pandemia. Também foram fechadas duas agências. Apesar disso, a Caixa registrou um incremento de mais de 43 milhões de novos clientes.
BALANÇO TRIMESTRAL — Conforme o balanço, nos nove primeiros meses deste ano a Caixa Econômica Federal registrou um lucro líquido de R$ 7,8 bilhões, com queda de 53,6% em relação ao mesmo período de 2019. No trimestre, o resultado alcançou o patamar de R$ 1,9 bilhão, com redução de 26,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior.
O banco informou ainda que, neste terceiro trimestre, o lucro ajustado foi de R$ 2,6 bilhões. O crescimento foi de 1,7% em comparação com o segundo trimestre. “O curioso é que a direção da Caixa nada explicou sobre os fatores que causaram a variação entre o lucro líquido e o ajustado”, aponta o presidente da Fenae.
Apesar da diferença entre um e outro, o balanço revela que os números sociais mostraram-se expressivos no que se refere ao atendimento à população. “Os bancários, com compromisso e eficiência, atenderam, em tempo recorde, 120 milhões de brasileiros beneficiários de programas sociais. Também foram criados aplicativos e abertas 105 milhões de poupanças digitais para agilizar os pagamentos”, enumera Sergio Takemoto, ao alertar para os riscos pelos quais passa a Caixa, sob ameaça de privatização por meio de subsidiárias e do nem ainda criado Banco Digital.
A CAIXA — A Caixa Econômica Federal é a principal operadora e financiadora de políticas públicas sociais, além de geradora de emprego, renda e desenvolvimento para o país. Além das agências, lotéricas e correspondentes bancários espalhados por todo o país, a Caixa chega à população de locais remotos por meio de unidades-caminhão e agências-barco.
A estatal oferece as menores taxas para a compra da casa própria e facilita o acesso a benefícios diversos para os trabalhadores, taxas acessíveis às parcelas mais carentes da população e recursos para o Financiamento Estudantil (Fies), entre outros.
Cerca de 70% do crédito habitacional é feito pela Caixa Econômica e 90% dos financiamentos para pessoas de baixa renda estão na Caixa. Além de moradias populares — como as do programa Minha Casa Minha Vida — o banco público também investe na agricultura familiar e nas micro e pequenas empresas.
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