Segundo dia de celebração dos 30 anos do Irpaa destaca elementos fundamentais da Convivência com o Semiárido

27 de Nov / 2020 às 14h00 | Variadas

Foi realizado no dia 25 (quarta feira), através de plataforma virtual e reprodução no canal do youtube (TV Irpaa), o segundo dia do de celebração dos 30 anos do Irpaa.

Este dia foi dedicado a realização do Seminário Técnico Científico, tendo como objetivo abordar os elementos fundamentais da Convivência com o Semiárido. Este momento contou com a participação de colaboradoras e colaboradores, representantes de organizações da sociedade civil e do poder público.

O debate sobre Clima e Água contou com as abordagens de André Rocha, colaborador do Irpaa e Cristina Nascimento, representando a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA). No ponto da Terra e Território, colaboraram com o debate Judenilton Oliveira, colaborador do Irpaa e Gilmar Santos, da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Tratando sobre a Produção Apropriada no Semiárido, colaboraram com o diálogo, José Moacir, colaborador do Irpaa e Egnaldo Xavier, técnico da Companhia de Ação e Desenvolvimento Regional (CAR); e sobre a importância da Comunicação e Educação Contextualizadas, as reflexões foram conduzidas por Karine Pereira, colaboradora do Irpaa e Ana Célia Menezes, professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Os debates do Seminário foram mediados por Ednalva Santos, que também é sócia do instituição.

Ao falar sobre o Clima e Água, André destaca o contexto em que vivia a região e de como o debate do Irpaa foi fundamental para despertar um outro olhar para o Semiárido. Ele também destaca a contribuição da instituição no debate do acesso e gestão da água, desde a captação, uso e armazenamento da água de chuva e a importância das tecnologias sociais utilizadas, como as cisternas, tanto no aspecto produtivo, como formativo. Além destas abordagens, ele também destacou a necessidade de ampliar a oferta de água armazenada e assim assegurar a qualidade de vida das pessoas na região.

Seguindo nesta perspectiva, Cristina destacou o papel político que o Irpaa cumpriu nestes anos para o Semiárido, contribuindo decisivamente para a organização das agricultoras e agricultores, bem como na elaboração de programas sociais, como o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC). “Hoje nós temos uma identidade de Semiárido, mas não o semiárido da fome, o semiárido da miséria, o Nordeste que o povo saía em busca de vida em outro lugar. Se hoje temos a firmeza de dizer, sou do Semiárido, sou do Nordeste, sou da Bahia, sou do Ceará, tem esta firmeza de identidade pela trajetória que construímos”, afirma Cristina ao lembrar que foram as potencialidades e experiências dos povos da região que contribuíram para a afirmação da proposta de Convivência com o Semiárido.

“Reconhecer o território das comunidades, é garantir que a convivência com o semiárido vai ser garantida, pois não adianta agente discutir diversas outras políticas se a terra não for reconhecida como um limitante estrutural para o desenvolvimento das famílias”, afirmou Judenilton ao tratar sobre as questões que permeiam a Terra e o Território para as famílias. Ele destacou a necessidade de garantir o direito e o acesso à terra aos povos e comunidades tradicionais, entendendo o território como elemento fundamental para a continuidade dos seus modos de vida e a preservação da caatinga.

Gilmar em sua participação ressalta a contribuição do Irpaa para nesse novo olhar sobre o bioma Caatinga, e de como as discussões fomentadas pela instituição foi de extrema importância para a Região Semiárida, pois segundo ele, a possibilidade da região ser vista com outra ótica tornou possível pensar em um novo projeto político de desenvolvimento. Para além disso, a contribuição na perspectiva da Educação Popular foi significativa, ajudando sobretudo na organização popular.

No debate acerca da Produção Apropriada, Moacir trouxe reflexões sobre o processo histórico percorrido pelo Ipraa, neste novo jeito de olhar os processos produtivos na região. De olhar para o clima, para a vegetação e dali sintetizar aspectos importantíssimos para a compreensão das viabilidades existentes no Semiárido. Ele também ressalta o papel da mística, o papel da contextualização da bíblia, além do fortalecimento da organização social das comunidades.

Apesar dos inúmeros avanços, ainda fica evidente, segundo Moacir, que ainda falta uma política fundiária que garanta condições mínimas de sobrevivência das famílias agriculturas, bem como uma política de regularização dos serviços de comercialização e beneficiamento dos produtos da Agricultura Familiar.

Egnaldo Xavier, técnico da CAR, que também já foi colaborador do Irpaa, ressaltou o quanto as experiências exitosas desenvolvidas pela instituição serviram de referência nacional para o avanço da agricultura familiar, o quanto a Caatinga tomou uma nova feição à partir dos debates feitos pelo Irpaa, resultando por exemplo na criação da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (COOPERCUC), bem como a ampliação da produção acadêmica sobre todos os temas que se entrelaçam com debate da Convivência com o Semiárido. “O Irpaa ajudou a trilhar, a levar a produção do Semiárido para o mundo, mostrando a sua potencialidade, mostrando a sua diversidade”, destacou Egnaldo ao afirmar o trabalho profético desenvolvido pela instituição, divulgando a Convivência com o Semiárido.

Sobre o debate relacionado à Comunicação e Educação contextualizadas, Ana Célia trouxe o quanto à educação na região Semiárida sempre foi limitada, fruto de herança negativa de dominação dos povos da região. Esta lacuna sociopolítica e cultural aprofundou o distanciamento dos sujeitos, deixando a margem milhares de pessoas que não tinham assegurado o direito à educação. Ela reforça que o Irpaa, em articulação com outras organizações e movimentos contribuíram decisivamente para a formulação e sistematização da proposta de Educação para a Convivência com Semiárido, colocando a escola em diálogo direto com os diversos espaços sociais.

Ana Célia também destacou a contribuição do Irpaa na criação e gestão da Rede de Educação do Semiárido brasileiro (RESAB), e de como conseguiu ao longo dos anos aproximar diversos sujeitos, tanto de organizações e movimentos sociais, como do poder público e instituições de ensino, a construir essa proposta, que hoje tem um papel estratégico dentro da construção de um projeto político de Convivência com o Semiárido.

Ao aprofundar sobre a temática Karine, lembra o papel da educação popular e comunicação nesse trabalho de sensibilização e formação política das pessoas. “A comunicação dentro do Irpaa, assim como a educação, nos ensina a questionar a realidade posta como normal. É normalizado por exemplo ‘é castigo de Deus a seca’! Entre outras coisas. Então nosso primeiro presidente Dom José Rodrigues ele nos ensina que no Semiárido não falta água, falta justiça”. Trouxe Karine ao ressaltar a contribuição do Irpaa na construção do Paradigma de Convivência com o Semiárido.

Karine também reforçar a contribuição que a comunicação teve na desconstrução dos estereótipos equivocados sobre a região, e da sua importância na disseminação de um olhar positivo, propositivo das belezas e riquezas que existem no Semiárido.

No encerramento do seminário, Ednalva deixa uma mensagem de força e esperança e música, pois apesar dos dias difíceis, o Irpaa continuará celebrando e lutando pela Convivência com o Semiárido e o Bem Viver dos povos.

Ascom

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