Em qualquer tipo de eleição, onde se encontra envolvido o voto individual e secreto, sempre estará presente relativa dose de apreensão, não somente quanto ao resultado, como, principalmente, à expectativa de se poder testemunhar depois de empossados os eleitos, a legitimação dos projetos e discursos exibidos durante a longa e acirrada campanha.
Nem sempre essa fidelidade de pensamento e ideologia é preservada, porque os acordos políticos logo começam a ser contaminados pela “Lei do Gerson”, onde a vocação para levar vantagens em tudo e o toma-lá-dá-cá, passam a desvirtuar regras e princípios de integridade.
Como é impossível esquecer essa frase simples, mas, verdadeira, permitam-me repetir o que me disse o amigo Edinho da Farmácia, in memoriam - ex-Prefeito de Uauá nos idos de 1966/1970 -, quando gerenciei a Agência do Banco do Brasil daquela cidade em 1983, ao afirmar: “Sr. Agenor, o poder é sedutor!”. Nada mais autêntico poderia ser dito para definir a emblemática sedução do poder, que corrompe e desvirtua as pessoas. Edinho estava totalmente certo. Pena não tenha tido oportunidade de poder comprovar sua célebre frase ao passar do tempo.
Essa sedução pode se manifestar de várias formas, tanto para o bem como para o mal. Quando transito por ruas de uma cidade como Salvador - e o mesmo deve acontecer com todos os leitores de outras cidades de médio e grande porte -, e vejo tantas obras públicas sendo executadas, voltadas para a melhoria do tráfego de veículos, construção de Hospitais, Clínicas e Postos de Saúde, praças e parques para o lazer da população, costumo fazer um certo comentário indagativo: o que seria dos seus habitantes, se não tivesse um Gestor Público e sua equipe cuidando de resolver os múltiplos e variados problemas da cidade? A vida se tornaria simplesmente um caos total... Isso prova que há gestores seduzidos por fazer o bem.
Por outro lado, existem os que se aproveitam apenas do cargo, e se locupletam dos recursos públicos de forma criminosa, desumana e irresponsável, além de se eternizarem no Poder, de pai a filhos e netos! Infelizmente, com o apoio popular, pois, ao contrário, passariam apenas os quatro anos do primeiro mandato.
E por abordar esse tema do apego ao poder, um assunto do momento que catalisou as atenções em todo o mundo, foi a grande repercussão causada pela eleição presidencial americana. A forma como o atual Presidente Donald Trump desqualificou o processo eleitoral do seu país, insistindo em que a apuração fosse interrompida e alegando a existência de fraude por todo lado, sem exibir provas concretas, foi algo inusitado e decepcionante para a postura do Presidente de uma nação tão importante para o mundo.
Como uma Nação potência do mundo democrático, os problemas evidenciados e a falta de reconhecimento da vitória do seu opositor, mesmo com uma larga margem de votos a favor do adversário, tanto do eleitor como em número de Delegados – 306 quando é exigido apenas 270, contra 253 -, afloram uma convicção de que tem alguém que não quer largar o osso de maneira nenhuma, ou seja, visível sedução pelo poder! Interessante é recordar que em 2016, o próprio Trump perdeu no voto popular para Hilary Clinton, por 2.869 milhões de votos de diferença, e venceu por ter obtido 306 Delegados. Agora, perdeu para o Biden nos dois segmentos e, coincidentemente, por 306 Delegados, também E, pelo andar da carruagem, tudo indica perderá no Judiciário. Como os maus exemplos sempre proliferam e têm um poder devastador, é bom já começar, por aqui, a colocar as nossas barbas de molho para 2022!
Mesmo que ainda não tenha sido declarado o Presidente eleito dos EUA, o Joe Biden, em um dos seus discursos após superar o número mínimo legal de 270 Delegados, usou uma frase importante e inspiradora, se efetivamente praticada no seu governo: “[...] E lideramos não pelo exemplo de nosso poder, mas PELO PODER DE NOSSO EXEMPLO”. Oxalá essa regra se confirme!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – de Salvador - BA.
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