Os percursos traçados pelo suicídio através dos tempos serão tratados na trilogia “História do Suicídio”, de autoria do professor do Colegiado de Ciências Sociais (Ciso) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) Alexandre Reis.
O primeiro livro da série, intitulado “Variações Antigas e o Domínio do Cristianismo”, será lançado nesta segunda-feira (9), num bate-papo com o autor, que acontecerá por meio de uma live no Instagram da editora, a partir das 19h.
O livro tem 356 páginas e convida o leitor a percorrer terras longínquas e familiares, que ora remontam à antiguidade, ora falam da atualidade. A obra procura responder à pergunta: Como a morte voluntária veio a se tornar suicídio? De acordo com o autor, o livro trata de uma genealogia sobre o momento em que a morte voluntária deixou de ser objeto de misericórdia e passou a receber austera reprovação, primeiramente associada ao homicídio e posteriormente nomeada como suicídio. Com uma linguagem que o autor define como dialógica, a obra é direcionada a qualquer pessoa que tenha interesse pelo assunto.
Ele ressalta que diversos documentos da Antiguidade são examinados e algumas questões são elucidadas nesse primeiro volume, mostrando histórias diversas que sugerem posições muito diferentes da atualidade frente à morte voluntária. “Pensadores que exaltam a morte livre como saída racional; pensadores que a condenam como covardia. Uma riqueza de ideias que se examinadas com rigor pode mostrar que nossa época carece de debates públicos e esclarecimentos, pois não temos construído visões diferentes do que herdamos da história recente da psiquiatria, ou da longa história dos dogmas cristãos canônicos. É notável que o cristianismo tenha assumido posições muito diversas nos primeiros séculos, até chegar em Santo Agostinho que estabelece um julgamento negativo acerca da morte voluntária que influencia toda a posteridade”, comenta o autor.
O primeiro livro da série já está disponível para venda por meio do site da editora. A expectativa é que os outros dois volumes sejam publicados no ano que vem, encerrando a trilogia “História do Suicídio”. O autor adianta que o terceiro volume chegará aos tempos atuais, abordando esse período de pandemia de Covid-19, que o mundo está vivenciando. Uma quarta obra, um livro de ensaios, também está no prelo. O livro chama-se “A Invenção do Suicídio” e será publicado em breve pela editora da Unicamp.
A trilogia e o livro de ensaios foram concebidos a partir de estudos e pesquisas realizadas ao longo dos últimos cinco anos pelo professor e filósofo Alexandre Henrique Reis durante a preparação para cursos de extensão e disciplinas ofertadas na Univasf, a exemplo do curso de Genealogia do Suicídio, que em 2015 atraiu mais de 100 participantes, e da disciplina Preleções sobre Suicídio, uma optativa do curso de Ciências Sociais, que neste período 2020.3 conta com 98 discentes matriculados. Contribuíram ainda para a elaboração da obra o trabalho como coordenador da Liga Acadêmica Thanátous, criada em 2018 com o intuito de estudar a morte e o suicídio, e o grupo de pesquisa Krisis, do qual Reis também faz parte.
Graduado e mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Reis é professor da Univasf desde 2010 e leciona disciplinas ligadas à área de Filosofia na graduação e nos programas de Mestrado Profissional em Extensão Rural e Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional (Profsocio). É autor dos livros Vita; Filosofia e Ética e Os Jardins da Academia e de diversos artigos em revistas científicas, além de ser organizador de outras obras literárias.
O interesse por estudar a temática da morte tem origem ainda na infância do autor e o suicídio especificamente começou a lhe chamar mais atenção como área de estudo na graduação e pós-graduação, época em que ele perdeu nove colegas para a morte voluntária. “Espero, com esse trabalho, promover discussões abertas que possibilitem ouvir as pessoas em sofrimento sem preconceitos, permitindo que elas falem e encontrem sentido na própria fala em substituição ao próprio ato”, afirma Reis.
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