Quadrilha criou 'empresa' dentro de Viracopos para operar tráfico internacional, diz delegado da PF

06 de Oct / 2020 às 13h15 | Policial

A quadrilha presa nesta terça-feira (6), durante uma operação da Polícia Federal em quatro estados do Brasil, criou uma "empresa paralela" para operar o tráfico internacional dentro do Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP). Ao todo, 35 mandados de prisão e 44 de busca e apreensão foram cumpridos. Dois homens morreram durante a abordagem. O terminal é o maior do país no volume de entrada e saída de cargas por via aérea.

De acordo com o delegado chefe da PF em Campinas, Edson Geraldo de Souza, o grupo não era responsável só pelo envio de drogas para o exterior, mas também prestava serviços para qualquer pessoa que quisesse enviar entorpecentes ou algo ilícito para outro país.

"Eles montaram uma empresa paralela de logística para oferecer serviços de envio de droga para fora do país a quem tivesse interesse. Ele estavam abertos para fazer negócios com qualquer um, explicou.

De acordo com a investigação, a organização criminosa é composta por brasileiros que ficavam responsáveis pelo fornecimento de cocaína que seria exportada para a Europa. Além disso, o grupo aliciava funcionários terceirizados do aeroporto para que interferissem a favor da quadrilha nas atividades de logística do terminal.

A investigação ainda informou que a quadrilha utilizava pelos menos três meios para colocar a droga dentro dos aviões: em caminhões que levavam cobertores das aeronaves, alimentação ou tratores que circulavam dentro do pátio do terminal.

"A colocação da droga era sempre por meio de carga ou bagagem. Cada pessoa que atuava no carregamento recebia R$ 50 mil. Ou seja, cada movimentação ilícita de envio de droga custava em torno de R$ 300 mil", disse outro delegado da PF, Marcelo Ivo de Carvalho.

Os mandados foram cumpridos nos estados de São Paulo, Mato Grosso, Amazonas e Rio Grande do Norte. Entre as pessoas presas, estão um policial militar e um policial civil.

MORTES: Segundo a investigação, um dos homens que morreram já era indiciado por roubo e homicídio, enquanto que o outro não tinha nenhuma passagem. A PF informou que abriu inquérito para apurar as circunstâncias das mortes, ambas em Campinas, mas não deu detalhes sobre como eles aconteceram.

Os óbitos aconteceram nos bairros Campo Belo e Cidade Singer. A polícia não passou mais nenhuma informação sobre o confronto que deixou as duas pessoas mortas e nem se houve recolhimento das armas dos suspeitos.

A operação, que recebeu o nome de Overload, conta com o apoio das polícias Civil, Militar, Rodoviária, Receita Federal, além da corregedoria da PM. Entre os presos, há 33 homens e duas mulheres. A concessionária Aeroportos Brasil Viracopos, que administra a estrutura, disse ao G1 que colaborou com as investigações.


Em um dos endereços investigados pela Polícia Federal em Monte Mor (SP), foram apreendidos R$ 180 mil em dinheiro. Dos 35 mandados de prisão cumpridos, 26 foram na região de Campinas, incluindo as duas mortes.

As investigações começaram em fevereiro, com a apreensão, na área restrita de segurança do terminal, de 58 quilos de cocaína antes do embarque.

Depois do flagrante, a Polícia Federal mapeou a rede criminosa, identificando as respectivas lideranças, as pessoas com quem se relacionaram e o processo empregado na exportação de grande quantidades de cocaína, a partir do aeroporto, com destino ao continente europeu. A quadrilha também operava para ocultar o lucro obtido com a prática criminosa.

Ainda segundo a investigação, entre os funcionários e ex-funcionários terceirizados do aeroporto que atuam com a quadrilha estão vigilantes, operadores de tratores, coordenadores de tráfego, motoristas de viaturas, auxiliares de rampa, operadores de equipamentos e funcionários de empresas fornecedoras de refeições a tripulantes e passageiros, que eram os responsáveis pelo esquema de embarque das drogas nas aeronaves com destino ao exterior.


A Polícia Federal informou que o grupo tinha uma atuação "complexa e sofisticada", formada por três pilares:

Grupo de operadores externos: pessoas que não pertencem ao quadro de funcionários do aeroporto e eram os responsáveis pelas tratativas com investidores e traficantes estrangeiros, assim como pelo aliciamento de empregados aeroportuários;
Grupo de operadores internos: empregados aeroportuários aliciados que exercem suas atividades na área restrita de segurança, especialmente em funções que envolvam carga e descarga de aeronaves e suas movimentações;
Grupo de operadores estrangeiros: traficantes em solo europeu responsáveis pela retirada da cocaína exportada a partir do Aeroporto Internacional de Viracopos.
A organização também utilizava o dinheiro do tráfico para comprar imóveis, veículos, abrir contas bancárias em nome de terceiros, e empresas fora do país. Desde o início da investigação, em fevereiro, a Polícia Federal apreendeu 250 kg de drogas em cinco apreensões diferentes.

Mais de 200 policiais federais, 80 policiais militares e 6 policiais civis participam da operação. O nome da força-tarefa, Overload, faz referência ao excesso de carga.

Ascom PRF Foto: PRF

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