Mais intrigante do que essa grave crise que vivemos nas áreas sanitária e econômica, agravada pela falta de liderança política, é a posição do Brasil no ranking de mortes diárias em consequência do novo coronavírus.
Sempre tive muita curiosidade em saber por que o nosso país sempre ocupou os primeiros lugares em relação aos graves problemas de saúde pública, como a hanseníase, assassinatos e mortes no trânsito.
Como dermatologista, passei a pesquisar o motivo do Brasil ocupar, assim como agora com a Covid-19, o segundo lugar no mundo em hanseníase, superado apenas pela Índia, país que vem aumentando muito sua incidência nessa pandemia. Coincidências que não ocorrem por acaso. Considero que essas tragédias são decorrentes de outras duas: falta de investimento qualificado em educação e no combate à impunidade.
Os países desenvolvidos, apesar de terem excelentes sistemas de educação, controlaram o coronavírus através de eficientes medidas de punição para os que não respeitaram o isolamento social como, por exemplo, a aplicação de multas. Em Paris, quem ultrapassou um quilômetro de sua residência sem justificativa foi multado em 200 euros.
O Brasil, com uma grande dívida social em educação durante muitas décadas, agravado pelas suas dimensões continentais, não pode ter a ilusão de que a conscientização da necessidade do isolamento irá controlar a pandemia. Já existem leis que punem estabelecimentos públicos e privados que permitem a permanência de pessoas sem uso da máscara.
O baixo nível de educação no Brasil reflete na falta de exercício da disciplina em respeitar as regras de isolamento por parte da população e, por incrível que pareça, também daquela, principalmente, com menor nível de educação de não ter ainda entendido a letalidade do coronavírus.
Mas, estou convencido de que tudo que citei são consequências e não causas de todas essas mazelas que nosso país continua sofrendo há muitas décadas. Minha experiência adquirida em mais de 30 anos como professor de medicina e médico no serviço público é que a origem de todos os problemas do Brasil está na falta de gestão de qualidade do serviço público, especialmente no treinamento do seu funcionário. Este, apesar de ter muito potencial, infelizmente, não recebe treinamento intenso e contínuo.
A maior experiência que vamos levar dessa pandemia é da necessidade de investirmos maciçamente em educação, principalmente nessa educação continuada no serviço público. Isso poderá ser manifestado na saúde pública pelo investimento na prevenção e não como faz o Ministério da Saúde de investir 80% em doença e 20% em prevenção.
A prioridade dessa medicina preventiva, inclusive nesse momento tão crítico, é de educar a população a ter hábitos saudáveis, como o isolamento social nessa pandemia e de reconhecer as doenças no início, como a falta de ar na insuficiência respiratória do coronavírus. A qualificação continuada das equipes do Programa Saúde da Família (PSF) também é fundamental.
Sérgio Paulo *Médico, professor da Faculdade de Ciências Médicas da UPE
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