A maior cidade do Sertão de Pernambuco, que polariza os limites da famosa Ponte Presidente Dutra com a vizinha Juazeiro(BA), chegou aos 125 anos de emancipação neste 21 de setembro de 2020.
A cidade, o rio São Francisco que lhe mapeia e as histórias ribeirinhas já foram abordadas nas várias linguagens artísticas: da música às artes plásticas, cinema e literatura. No cancioneiro da MPB, poetas e compositores já decantaram Petrolina com sucesso alinhado seus versos na trilha do pertencimento, das belezas naturas e de seu povo, sempre tendo o Velho Chico como protagonista.
Para citar alguns de seus criadores, tomemos o filho da terra Geraldo Azevedo, como ponto de partida ao expor seu "eu lírico" para com oseu berço natal. No segundo disco de sua carreira, intitulado apenas Geraldo Azevedo(1977), em parceria com Carlos Fernando, uma das mais inspiradas e autobiográfica canções dele é "Barcarola do São Francisco", em cuja letra narra sua partida para o Rio de Janeiro, tendo Petrolina como endereço e cenário de despedida:
É a luz do sol que encandeia(...)Vento, vela a bailar/Barcarola do São Francisco/Me leve para o mar/Era um domingo de lua/Quando deixei Jatobá/Era quem sabe a esperança indo à outro lugar/Barcarola do São Francisco/Velejo agora no mar/Sem leme, mapa ou tesouro/De prata ou luar(...).
Independente de saudosismo, no início da carreira já com os pés no chamado Sul Maravilha, lançava de longe seu olhar sob o pertencimento das coisas que ficaram na sua memória fotográfica do passado e de sua origem na comunidade do Jatobá que está sempre plena e viva no filme de sua vida real.
Uma das canções mais conhecidas no país que fala de Petrolina é o xote "Petrolina e Juazeiro", gravada no final da década de 1970 pelo grupo Trio Nordestino e depois pelo autor pernambucano Jorge de Altinho que na década de 1970 morou na região. O compositor confronta de forma poética as duas cidades, buscando eliminar um possível senso de disputa e bairrismo, inserindo os dois territórios no campo das belezas naturais, como reforça na letra:
Nas margens do São Francisco nasceu a beleza e natureza ela conservou. Jesus abençoou com sua mão divina/Pra não morrer de saudade vou voltar pra Petrolina/Do outro lado do rio tem uma cidade/Que na minha mocidade visitava todo dia/Atravessava a ponte, ai que alegria/ Chegava em Juazeiro, Juazeiro da Bahia(...) Juazeiro, Petrolina/ Todas as duas eu acho uma coisa linda/Eu gosto de Juazeiro e adoro Petrolina/.
Em 1986, em um dos seus melhores discos "Mestiço é isso"(1986), Moraes Moreira em parceria com o Geraldo Azevedo, também carimbou uma canção batizada de "Petrolina e Juazeiro", usando as águas do Velho Chico como referência de batismo e unificação das cidades ribeirinhas.
"Meu barco é meu coração que vai sem mágoa/ Nas águas deixa paixão até o cais/ Beira de rio/ Pernambuco e Bahia/ Todo vapor Marinheiro pode trazer Meu amor Juazeiro/ Bela menina pode trazer meu amor Petrolina".
Filho de Petrolina radicado há mais de 30 anos em São Paulo o compositor, cantador e cordelista Aldy Carvalho, jamais quebrou seu cordão umbilical com a cidade natal. Suas temáticas sempre estão focadas no Nordeste, no Sertão e na caatinga. A ampla percepção das lembranças da infância se atualiza com o presente. Um de seus primeiros discos, o Redemoinhos, gravado em LP e depois reeditado em Cd (1999/2000), trafega pelo imaginário de temas que traduzem a amplitude de suas memórias vivas desde a infância em Petrolina. Não por acaso, ele dedicou o disco à cidade de Petrolina "O Sertão que vive em mim"
Nascido em de Santa Cruz, onde passou parte da infância, Virgílio Siqueira, radicado há décadas em Petrolina é um dos maiores poetas em atividade no Estado, com vários livros publicados e projetos independentes. Na edição de Vaga-lumear (2011), o leitor encontra Petrolina como pano de fundo no belo (trabalhado e inspirado) poema "A essência do nosso sonho", no qual expõe o homem e mulher inseridos na grandeza do sertão em que Petrolina é o cenário com beleza e energia do Velho Chico.
Do encanto do teu nome/Nosso lume se espalha pra todo canto/ Em tua chama de esperança – amor e fé/ Com bravura, luz e força – o homem brandura e acesa fibra – a mulher /Bebem a energia do rio/ Úmido manto a nos acolher em seu leito/ Para mais um desafio/ Com a certeza de vencê-lo, ativa no peito/ Brotam daqui, Petrolina/Da entranha dos húmus do teu chão/À agridoçura do sumo dos teus frutos/A essência do nosso sonho e suor/ Nossa força e suporte, por ti: nosso trabalho/ Nosso sentido mais forte, por ti: nosso amor.
Com dez anos de carreira, só em 1982 foi que Alceu Valença conquistou o grande público por conta de estouro de Tropicana do disco Cavalo de Pau. O disco tem "Rima com Rima" em que o compositor provoca: Se eu rimar rima com rima/É tangerino tangerina(...)/Pirapora Petrolina/ Pirapora o teu destino é Petrolina/ Rimando remo com rima/É rio é maré e é mar". Enfim, Petrolina continua sendo terra sempre cantada e decantada.
*Emanuel Andrade, jornalista, professor do curso de Jornalismo em Multimeios e Doutor em Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP).
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