Surgimento de abelhas na zona urbana está ligado ao desmatamento, diz especialista

16 de Sep / 2020 às 15h33 | Variadas

O surgimento de abelhas em vários pontos da zona urbana de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, tem assustado moradores da cidade. Na última segunda-feira (14), um idoso de 71 anos morreu após ser atacado por um enxame, no Centro da cidade. Além dele, outras nove pessoas ficaram feridas.

Segundo a professora de meliponicultura e apicultura do curso de zootecnia do campus Petrolina Zona Rural do Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IF Sertão-PE), Carla Samantha Rodrigues Valério, as abelhas estão em período de reprodução, o que acontece sempre após o período chuvoso.

“Nós estamos em uma época de reprodução das abelhas, isso é normal e aconteceria em qualquer ambiente, rural ou urbano. Após as chuvas, a gente tem uma disponibilidade de alimentos, as abelhas crescem a população e precisam se dividir, porque não cabem mais no local onde elas estão. Onde tiver enxame, ele vai se multiplicar. Aí, ele procura o local mais próximo que tenha sombra, alimento, que tenha água”, diz a professora.

A especialista explica que com o desmatamento e a destruição dos locais naturais, as abelhas procuram outras áreas, onde possam se reproduzir. Assim, sem espaço na zona rural, elas passam a migrar para a zona urbana do município. “No ambiente natural, elas procurariam uma árvore, outro lugar semelhante ao que elas já estavam”.

“Infelizmente, um dos motivos é o desmatamento, a destruição de locais naturais. A incidência de muitos condomínios na zona rural, isso leva ao desmatamento para poder construir, mesmo que de maneira legalizada, ele ocorre. Então, as abelhas acabam tendo que procurar outros locais”.

A quantidade de alimentos encontrados na cidade e a proximidade com o rio também, segundo a professora, têm contribuído para a esse aparecimento de abelhas nos bairros de Petrolina.

"A proximidade do rio com o centro da cidade faz com que elas consigam chegar a cidade com mais facilidade. Elas ficam nas árvores, que ficam próximas ao rio, na mata ciliar, e aí quando elas se multiplicam acabam se aproximando mais dos centros urbanos”.

A professora do IF Sertão destaca que a destruição de áreas naturais também contribui para que outras espécies passem a aparecer com mais frequência nos bairros. “Quando a gente destrói um ambiente que seria propício para os animais selvagens, eles acabam tendo que procurar outro ambiente. Às vezes acontece de cobra, escorpião, aranhas caranguejeiras na cidade, porque o local natural deles está sofrendo interferência pelo homem”.

“Nós estamos invadindo os ambientes dos animais e eles precisam procurar novos locais, e a cidade está cada vez mais próxima da zona rural”.

Em relação aos ataques, a professora lembra que as abelhas agem motivadas por algum estímulo externo. “A abelha não vai atacar porque ela se zangou. Alguém passou por perto, bateu no local onde ela estava, algum barulho, ruído, que no centro da cidade é mais intenso, e elas ficam bastante irritadas”.

Com o surgimento cada vez mais frequente de enxames, a professora destaca que as pessoas precisam procurar ajuda especializada para recolher as abelhas e evitar novos acidentes.

“O que a população precisa entender, é que ao verificar a presença de enxame, mesmo que pequeno, precisa comunicar as autoridades, para que a gente possa remover antes que o pior aconteça. Às vezes a pessoa vê, comenta, mas não faz o comunicado, aí a gente não consegue agir a tempo para evitar um acidente”.

O diretor-presidente da Vigilância Sanitária de Petrolina, Marcelo Gama, também destaca alguns cuidados que a população precisa tomar ao identificar um enxame.

“A primeira coisa que tem que fazer é isolar a área, para que pedestres e populares não encostem nas abelhas trazendo riscos para suas vidas. O segundo passo seria entrar em contato com o SOS Abelhas, pelo telefone (87) 3867-4774, para que o SOS possa ir ao local e verificar a procedência da denúncia, e consequentemente realizar o resgate desse enxame.”

A reportagem é do jornalista Emerson Rocha, G1 Petrolina

G1 Petrolina Emerson Rocha Foto: Projeto Abelha Viva

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