Quando meus querido e inesquecíveis amigos padre João Câncio, Luiz Gonzaga e Pedro Bandeira criaram a Missa do Vaqueiro, há meio século, no Sitio Lajes, o fundamento foi a defesa do homem do campo, na pessoa do vaqueiro Raimundo Jacó e, por extensão, toda a vaqueirama e trabalhadores deste Sertão "judiado", como dizia o sacerdote filho do barbeiro Mestre Chico, lá de Petrolina.
João Câncio era uma criatura extremamente humana, político e socialmente centrado na obra de Deus através da Igreja Católica de Dom Helder Câmara. Ora, ele foi ordenado, juntamente com meu inesquecível amigo Mansueto de Lavor, filho de Serrita, em 1964, em plena ditadura militar.
Foi assim que João Câncio dos Santos transformou-se no padre-vaqueiro, que fazia a celebração paramentado com as vestimentas do vaqueiro. E participava das vaquejadas em muitos municípios do Sertão.
O filho de Mestre Chico surpreendeu a própria Igreja quando sugeriu aos vaqueiros (durante a missa assistida por milhares de pessoas, com a participação de turistas nacionais e estrangeiros), que assistissem a celebração montados nos cavalos e apresentassem seus instrumentos de trabalho – da cela até a última peça de sua vestimenta, durante o ofertório e a hóstia seria trocada pelo queijo, rapadura e farinha, alimentos básicos do homem da lida do campo.
João Câncio – que enfrentava os políticos atrasados da região de fronte erguida, resumia o verdadeiro sentido da Missa do Vaqueiro como "Um Grito de Justiça no Sertão".
Hoje, porém, tudo isso foi esquecido...
Transformaram a missa em uma coisa que trata de despesas, de dinheiro, contratação de artistas, aluguel caro de barracas e até cobrança de estacionamento dos familiares dos vaqueiros que tanto foram defendidos por João Câncio.
Eu continuo com o compromisso de não deixar que enterrem em "cova rasa" a memória e o sentimento cristão daqueles que fundaram a Missa do Vaqueiro do Sítio Lajes.
Viva João Câncio e Luiz Gonzaga. Um forte abraço ao meu amigo Pedro Bandeira, hoje com a saúde abalada, mas que deve mais uma vez comparecer ao altar de pedra do Sitio Lajes nos próximos anos (depois da pandemia do novo coronavírus) , lembrando nosso primeiro encontro ali no centro das caatingas, onde os vaqueiros Raimundo Jacó Mendes e Miguel Lopes (acusado de matar seu colega) trabalhavam para os fazendeiros São do Alferes e dona Tereza.
Pela primeira vez em 50 anos a Missa do Vaqueira não vai ser realizada, presencialmente!
*Machado Freire-Jornalista
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