É indiscutível que todos os gestores do Brasil estão atravessando dificuldades no combate ao Covid-19, com crise no sistema de saúde e os problemas na economia. Já é consenso entre os profissionais de diferentes setores que o ano de 2020 será marcado como um período de mudanças na educação, na saúde pública, nas finanças, nas relações sociais e nas formas da convivência cotidiana.
No entanto, além das dificuldades para enfrentar as consequências de uma pandemia de escala global, o país tem passado por um momento sui generis. É certo que nenhum representante público estaria preparado para os problemas causados pelo vírus, mas relativizar as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) coloca em risco as medidas para conter o avanço do número de infectados e mortos.
Os atos de grupos negacionistas têm demonstrado os empasses entre as opiniões sem fundamentos e as pesquisas científicas, beirando a desonestidade intelectual. Teorias da conspiração, culpabilidade da proliferação do vírus por grupos políticos ou discursos escatológicos apenas pioram um instante que também é marcado por instabilidade psicológica. Nos últimos tempos, temos visualizado uma “guerra” de informações nas redes sociais e entre governantes, fatos que não têm favorecido o bem-estar da população em um momento de necessário distanciamento social.
Alinhado a este tipo de discurso, o presidente Jair Bolsonaro tem atuado como porta-voz de grupos que não reconhecem a gravidade da pandemia. O chefe do Executivo, que por lei deve garantir a estabilidade do país, demonstra dificuldades de atuar com a responsabilidade que o momento e o cargo exigem. Os seus pronunciamentos e ações públicas evidenciam a incapacidade de gerir uma das principais crises das últimas décadas, com consequências que ainda são incalculáveis.
Em um instante em que todos os setores precisam apresentar resultados eficientes para diminuir os impactos da crise, o presidente optou por participar de manifestações com propostas antidemocráticas, promover a instabilidade entre os três poderes, agredir a imprensa, manter um ministro da Saúde interino e sem a formação necessária, além de compactuar com os atos que não contribuem com a manutenção da ordem social. As suas ações são impensáveis para um líder de uma das principais economias mundiais, que precisa lidar com o aumento dos índices da doença, a suspensão de parte das atividades do mercado e as dificuldades que muitos trabalhadores essenciais estão submetidos.
No momento existem centenas de profissionais em condições de risco, sem equipamentos e materiais adequados, descanso ou justa remuneração. As atividades dos centros de ensino estão suspensas, com graves consequências para a formação dos discentes em diferentes níveis, comerciantes com prejuízos incalculáveis que precisarão de muito tempo para reorganizar as suas contas e o número de desempregados têm crescido sem controle. Mesmo assim, o chefe do Executivo tem atuado como um infante, sem responder por seus atos, com palavras e ações que podem gerar resultados desastrosos.
A história demonstra que, como em qualquer crise internacional, precisamos de projetos de impacto e ações sérias que preservem a vida. O vírus não é de esquerda ou direita, não tem escolhido a idade das suas vítimas, não tem cor ou classe social, não está a serviço de um laboratório ou foi produzido para desestabilizar determinada economia. Neste instante de dificuldades necessitamos de dirigentes que tenham a consciência da importância da sua governabilidade para mais de 210 milhões de cidadãos, muitos em vulnerabilidade social. Precisamos vencer o Covid-19 e ao mesmo tempo combater o vírus da ignorância, da negação e da irresponsabilidade.
Carlos André S. de Moura - Docente da Universidade de Pernambuco, Pós-doutor em história.
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