Nos dias 3 e 4 de julho, aconteceu a 43ª Romaria da Terra e das Águas, que teve como tema “Terra e água: dons da vida no campo e na cidade” e o lema: “Em sua mão está a vida de cada criatura e fôlego de toda humanidade” (Jô, 12,10).
A tradicional Romaria, que reúne milhares de romeiros e romeiras anualmente em Bom Jesus da Lapa (BA), foi realizada de forma virtual, com transmissões ao vivo pela internet.
Em meio à pandemia do novo coronavírus, velhas e novas formas de desigualdades sociais aparecem em evidência. O distanciamento social, recomendado em todo mundo por organizações de Saúde, provou que a luta por direitos legalmente e humanamente constituídos, rompe as barreiras físicas e ocupam espaços virtuais.
É, nesse contexto, que aconteceu pela primeira vez na história da Romaria da Terra e das Águas de Bom Jesus da Lapa, uma Romaria Virtual. Por conta da Covid-19 foi necessária essa readaptação, como pontuou o Dom Frei Luís Cappio, da Diocese de Barra, na Missa de Abertura. “São 43 anos vendo o Santuário cheio de romeiros e romeiras, estou vendo tudo vazio e estou com a garganta amarrada, pois gostaríamos que todos estivessem aqui festejando a terra e a água, junto ao Senhor Bom Jesus. A pandemia nos segura dentro de casa, mas vamos ter paciência, nós vamos vencer essa situação difícil”, comentou Frei Luís.
Os romeiros e romeiras acompanharam a programação da Romaria através das redes sociais e interagiram por meio de mensagens, a exemplo de Jaime Cobertino da comunidade quilombola Vazante, de Seabra (BA). “Este ano é diferente, mas é uma nova experiência”, destacou. Em meio a esse cenário pandêmico é necessário fortalecer e encontrar meios criativos para alimentar a alma e a Romaria da Terra e das Águas, cumpre seu papel, como afirmou o Pe. Manuel Dias: “animar, fortalecer a esperança e continuar lutando e resistindo”.
O Grande Plenário Virtual, espaço dedicado aos testemunhos de luta e compromissos com a Casa Comum, aconteceu na tarde do sábado (4) e foi mediado pela agente da CPT Bahia Marina Rocha e o integrante da Pastoral da Juventude e do Meio Popular (PJMP) Danilo Borges. O início do Grande Plenário contou com depoimentos em forma de poesias, músicas e testemunhos sobre as temáticas dos Plenarinhos.
No Plenarinho “Fé e Política”, a contribuição veio do Pe. Ermanno Allegri e do ator e poeta Dominique Faislon, que destacaram o verdadeiro sentido da dimensão da fé e política e sua importância na conjuntura atual. No de “Terra e território”, os romeiros e romeiras escutaram fortes mensagens de resistência e luta de Tereza do Assentamento Dois Riachões, em Ibirapitanga (BA), e do cacique Ramon do povo Tupinambá de Olivença.
No Plenarinho sobre o “Rio São Francisco e outras Bacias”, a Articulação Popular do São Francisco Vivo denunciou o projeto de construção de uma nova barragem na região mineira de Pirapora e Buritizeiro. Zacarias Rocha, do território de fundo de pasto Areia Grande em Casa Nova (BA), relatou os impactos socioambientais da barragem de Sobradinho. A Cacique Lucélia Leal Pankará alertou sobre a violência contra o rio São Francisco, através do projeto de criação da Usina Nuclear em Itacuruba (PE).
“Vidas Negras Importam” foi o grito do Plenarinho da Juventude. Com diversos vídeos, poesia e fotografia, os jovens negros ecoaram suas vozes relatando as desigualdades, o racismo e o genocídio da população negra. Por último, o Plenarinho das “Crianças” encantou a todos/as. Com diversos vídeos criativos, as crianças animaram os romeiros e romeiras com suas mensagens de esperança de um futuro melhor.
O Grande Plenário contou ainda com a assessoria de Ruben Siqueira, da coordenação nacional da CPT, e com a animação dos músicos Climério, Hélio Marinho e Renato. Ruben sintetizou os temas abordados e dialogou sobre a conjuntura atual com os romeiros e romeiras que interagiram através dos comentários.
No final da tarde do sábado, a Missa dos Compromissos da 43ª Romaria da Terra e das Águas Virtual trouxe depoimentos de romeiros e romeiras que este ano não puderam comparecer presencialmente à Gruta do Bom Jesus. Foram mensagens de força, reconhecimento e vivências. O Pe. João Batista, do Santuário Bom Jesus da Lapa, finalizou sua palavra dizendo: “realizar um ato desse é conforto para alma, é conforto para nossa vida espiritual, é conforto para nossa consciência, para nossa razão, porque entendemos que Deus continua e continuará agindo em nós quando não o abandonamos”. Na Missa, também foi lida a Carta da Lapa, documento com os compromissos firmados durante a Romaria.
Para encerrar a 43ª Romaria da Terra e das Águas, a Noite Cultural levou música e poesia às casas dos romeiros e romeiras. Os músicos Zé Vicente e Roberto Malvezzi (Gogó) animaram o momento, não só com a boa música, mas intercalando as canções com histórias de luta e fé relacionadas a terra, água, povos e comunidades.
A programação completa da Romaria, incluindo as celebrações, Grande Plenário e Noite Cultural, está disponível no canal do Youtube e na página do Facebook da CPT Bahia.
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