No documentário Milagres de Santa Luzia, do cineasta Sérgio Roizenblit, cuja narrativa apresenta um mergulho em histórias de diversos sanfoneiros brasileiros, o saudoso Mestre Dominguinhos declara, com a afetividade e admiração que lhe eram características:
“Um velho amigo de muitos e muitos anos, Camarão tinha uma banda que já tocava em ritmo de baião e forró músicas dos Beatles e um bocado de coisa que esse povo pensa que está inovando hoje em dia”.
Dominguinhos explicava com gratidão a trajetória de Reginaldo Alves Ferreira, o Mestre Camarão. Camarão foi considerado Patrimônio Vivo até 2015, quando faleceu. Toda a importância de suas criações para a música brasileira, principalmente em se tratando de forró, fez com que o selo alemão Analog Africa se interessasse pela obra do artista para a coletânea The imaginary soundtrack to a Brazilian western movie.
Nesta terça-feira, 23 de junho de 2020, Mestre Camarão se vivo fosse no plano terrestre, completaria 80 anos. A grande inovação de Camarão foi uma visão social: considerado como pioneiro na criação do primeiro grupo de forró do país, que se chamava “A Bandinha do Camarão”, o mestre também manteve uma escola de música.
A técnica à frente da sanfona logo o transformaria em referência musical no Nordeste e no Brasil. Camarão é apontado como criador da primeira banda de forró do país e o pioneiro na introdução de metais nos conjuntos. No currículo, carregou a experiência de ter dirigido a Orquestra Sanfônica de Forró de Caruaru, a primeira do gênero.
Gravou 27 discos , entre 78 rpm, LPs e CDs. Em 2001, fez os arranjos das sanfonas e tocou sanfona e baixo sanfonado em todas as faixas do CD "Xote pé de serra", de Santana, entre outros trabalhos extraordinários.
O rei do Baião Luiz Gonzaga, dizia que 'Camarão toca muito e faz ate desenho quando aperta a sanfona. Em suas mãos a sanfona chora ou ri, dependendo do seu estado de espírito e motivo musical."
Nascido no município de Brejo da Madre de Deus, Pernambuco mais precisamente na região de Fazenda Velha, Reginaldo, filho de Antônio, que era sanfoneiro, começou sua trajetória com a sanfona de oito baixos ainda criança, pois aos sete anos já tocava.
“Era tradição entre os agricultores festejar, uma coisa bem interiorana mesmo. Meu avô e bisavô eram muito envolvidos com as questões agrícolas e comemoravam tocando nas festas e nos sambas. Meu pai foi criado no meio de sanfonas, violeiros e repentistas e tinha uma ligação forte com o instrumento dele”, afirma o professor, historiador e músico Salatiel D’ Camarão, filho do Mestre. Mais tarde, na década de 1960, foi para Caruaru integrar a banda como sanfoneiro da Rádio Difusora de Caruaru, onde conheceu com Luiz Gonzaga, Sivuca e Onildo Almeida.
O sanfoneiro e cantor Marquinhos Café, nascido em Caruaru, Pernambuco e residente em Salvador, tem uma atenção especial pela vida e obra do Mestre Camarão. O pai de Marquinhos Café, seu Antônio era amigo de Camarão e levou o então menino para ter umas aulas de vida e aprendizado na sanfona.
"Fui aluno do mestre. Gratidão eterna a você meu mestre Camarão e que Deus Ilumine e proteja eternamente", escreveu Marquinhos em suas redes sociais.
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