Ainda que para alguns mortais, obviamente brasileiros, tornou-se uma prática comum encontrar embasamento de natureza cultural para justificar os desvios de conduta nos seus atos de desonestidade, existem as poucas exceções para as quais “ser HONESTO não é virtude, é obrigação”!
O comportamento humano sofre influência de vários matizes, tanto para o bem como para o mal. Pode parecer recorrente, mas nunca é demais repetir o sábio pensamento do ilustre baiano Ruy Barbosa, quando em discurso no Senado Federal, em 1914, definiu com raríssima felicidade que: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.
Verdades como essas ditas pelo sábio Ruy Barbosa, há 106 anos, vergonhosamente permanecem presentes no contexto político nacional, ao ponto de mesmo o país convivendo com uma tragédia como a atual, em que milhares de vidas são ceifadas todos os dias (mais de 46.000 mortos!), políticos irresponsáveis continuam indiferentes ao sofrimento de milhões de brasileiros.
Infelizmente, a classe política está infestada de desonestos, que se aproveitam de um momento de “estado de calamidade” para assaltar os cofres públicos, a exemplo dos recentes escândalos na compra dos respiradores para as UTIs, em alguns Estados, e a Merenda Escolar, em Belém-PA. E aqui não estou escrevendo fora da realidade, porque os noticiários estão aí recheados desse assunto indigesto e imoral. Já se foi o tempo em que ser honesto era uma regra de vida e total obrigação, enquanto agora tem um caráter de tanta excepcionalidade, que a pessoa detentora dessas qualidades passou a ser merecedora de altos elogios.
Ao se falar em honestidade, vem à lembrança um episódio histórico bastante ilustrativo, envolvendo o Imperador romano Júlio Cesar (62 a. C.), que se divorciara da segunda mulher, a Pompeia Sula. No Tribunal o Imperador foi solicitado a depor contra o jovem Publius Clodius, acusado de ter usado um disfarce feminino para se aproximar da mulher do Imperador numa festa íntima. Não desejando atribuir a culpa unicamente ao jovem, usou de uma expressão que se transformou num provérbio popular por mais de 2.000 anos: “À mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta”!
Por analogia, é cabível a afirmativa de que aos homens públicos NÃO BASTA SER HONESTO, mas, além de parecer, que sejam dotados de outras competências e qualidades imprescindíveis ao desempenho da condição de comando. O verdadeiro líder não se impõe pela agressividade e ameaças constantes, mas, conquista pela habilidade a confiança de bom gestor, e a credibilidade junto ao seu povo, no caso dos governantes.
Nas entrevistas ou declarações num cercadinho junto aos apoiadores de todas as manhãs – aliás, gente que nem trabalha, nem fica em casa, nem usa máscara! -, muito se ouviu que não joguem no colo da Presidência da República as mortes contabilizadas e sim no colo dos Governadores e Prefeitos, passando na voz uma dolorosa sensação de alívio, omissão e transferência de responsabilidade! Tipo assim: não tenho nada a ver com isso, quando todos sabem que tem!
Ora, no instante mais grave da vida nacional, em que é imprevisível o elevado número de brasileiros que perderão as suas vidas pela Pandemia, não é justo que nos sintamos órfãos de um líder nacional (palavra difícil nesse país), e estamos a testemunhar uma politicalha suja, velha e irritante entre o Presidente e alguns Governadores – leia-se RJ e SP -, em que a candidatura à sucessão é sempre o foco da questão! E dane-se quem está morrendo e perecendo nos hospitais. É como se existisse um vácuo institucional.
Conclusão: realmente, não basta ser honesto!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador – BA.
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