Neste período do ano era comum passar pelo centro de Juazeiro e Petrolina e ouvir um trio de forró, sanfona, zabumba e triangulo. Uma verdadeira "industria cultural" criada pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga.
A não realização dos festejos juninos durante a pandemia do novo coronavírus impacta diretamente esta cadeia produtiva que vive e sobrevive do são-joão: os forrozeiros. Os trios de forró costumam ter visibilidade no período, que é quando a agenda de shows fica lotada, mesmo que tenham que dividir espaços com outras vertentes mais comerciais do ritmo nordestino.
Em contato com a reportagem da redeGN, o sanfoneiro Manoel Rodrigues Paixão, 48 anos, nasceu em Afrânio, Pernambuco. Mora em Petrolina. Apaixonado por sanfonas é tocador desde os 12 anos. Possui o dom cada vez mais raro no Brasil e em especial no Nordeste: conserta e afina sanfonas.
Nos outros anos, a agenda de Manoel Paixão estava lotada nessa época. Apresentações em Juazeiro, Petrolina, e outras regiões do entorno. Um afinador de sanfona profissional tem sempre agenda cheia. Manoel Paixão herdou do pai os ensinamentos sobre o instrumento, que já vieram do avô e irmãos.
"Nesta época, entre o mês de maio ao final de junho, era lugar para tocar quase todo dia. Mês de junho. Festejos juninos, nós sanfoneiros tinhamos garantido, apesar das dificuldades que o forró pé de serra enfrenta o seu ganha pão garantido".
A produtora cultural, a Presidente da Associação Balaio Nordeste, Joana Alves da Silva, coordenadora do Fórum Nacional de Forró e que articula o movimento do Forró como Patrimônio Cultural do Brasil desde 2011, lamenta o momento de crise vivido pela classe dos sanfoneiros e músicos dos trios de forró.
“As dificuldades são imensas, toda a cadeia produtiva sofrendo muito, principalmente os pequenos artistas e músicos que são os mais penalizados. Estamos cobrando políticas públicas dos governantes, editais, mas até agora não conseguimos muitas coisas”. Segundo ela, o fórum vem fazendo ações emergenciais, como distribuição de cestas básicas.
Mas o forró resiste. Foi lançado no último dia 12, e segue até o dia 28, o Festival São João na Rede nas principais redes sociais. Serão mais de 200 artistas envolvidos nos dias de festa virtual, com muita música, apresentação de contadores de histórias, professores de dança, mestres da cultura nordestina, poetas e palestrantes.
O festival se destina, segundo os organizadores, a arrecadar donativos para profissionais da cadeia produtiva do forró que estão em situação de vulnerabilidade por causa do isolamento social. “Essas doações serão captadas e distribuídas através de plataforma eletrônica”.
“A grande questão é entender que o forró pé de serra é uma cultura de resistência. Não tem apelo comercial. Então, é uma luta levar adiante algo com um público muito segmentado”, avalia Marcão, produtor do Trio Balançado, formado por Vavá Gomes (sanfona e voz), Leandro Medeiros (triângulo e voz) e Zé Carlos (zabumba e voz).
“Muitos trios não vivem só da música, mas é evidente que era um complemento que dava qualidade de vida. Essa pandemia é terrível e muito complicada. Tem forrozeiro passando fome”, comenta Marcão.
A apresentação de música ao vivo foi a primeira a parar com o decreto em março e certamente os sanfoneiros estão entre os últimos a voltar ao trabalho depois dessa pandemia.
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