Como já é de conhecimento geral, as festas de São João foram canceladas na Bahia por conta da pandemia do novo coronavírus. Para atenuar a situação, os artistas e empresas de comunicação estão criando alguns programas temáticos em forma de live show.
O já tradicional São João do Nordeste é um exemplo dessa adaptação e será exibido pela Globo, no próximo sábado (20), após “Fina Estampa”. Porém, a escolha de Léo Santana para representar a Bahia não agradou e foi bastante criticado.
Confira texto da professora e mestre Vera Medeiros. O texto foi copiado da página do Facebook da autora:
O padrão do ‘politicamente correto’ não nos permite dizer determinadas coisas em tom menos filosófico que o considerado aceitável. Então, para falar da escolha do cantor Léo Santana para representar o São João da Bahia num evento da Rede Globo Nordeste, quero usar o argumento clássico do óbvio: a representatividade musical.
Imaginemos que se convocasse o brilhante João Gilberto, o chamado ‘Papa da Bossa Nova’, para representar o “Manguebeat” e deixássemos a figura de Chico Science e do Mestre Ambrósio, por exemplo, a observar isso com a mesma “naturalidade” que alguns têm usado para pensar que “ela encaixa com esse grave do beat” , “quando a bunda começar a jogar”.
Léo Santana representa o São João da Bahia?
E Léo Santana representa o São João?
Mais grave que a falta de conhecimento que grande parte desta geração tem dos movimentos musicais brasileiros é a violentação intelectual que ela sofre por parte dos que conhecem a trajetória dos talentos que o Brasil possui. Essa violência intelectual nega a força que significa respeitar a representatividade de cada área musical, sua identidade cultural.
Por que esqueceríamos que Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga, Antônio Calado merecem o trono da beleza do Chorinho?
Baseado em que negaríamos que Lupicínio Rodrigues e Dalva de Oliveira embalaram as dores de cotovelo de sua geração, através do rádio ?
Como podemos esquecer que foi o “Rei do Baião” que levou o sertão, sua gente, suas raízes a serem respeitadas no cenário musical brasileiro?
Por que ignorar a genialidade da Bossa, a revolução do Tropicalismo, o efervescer da Jovem Guarda, a doçura do Clube da Esquina e os grandes nomes que representam cada um desses movimentos musicais?
Dá para pensar que o próprio Luiz Gonzaga se arvoraria a representar o ‘axé music’ e se apropriaria da cultura na qual ele não se faria pertencer musicalmente?
Não. Ele já havia aprendido que o seu “fole prateado” não lhe daria o direito de “mangar” nem de Januário, nem de qualquer representante de outra riqueza musical.
E é por isso que Gonzagão tem seus representantes no universo do forró , do xote, do xaxado, do baião... E estes devem ser respeitados. A Bahia, o Brasil e o mundo sabem disso.
O axé tem seus representes – e Léo Santana, inclusive, o repaginou com seu “rebolation”. Tem seu valor nesse processo identitário. Ponto.
Como afirma Caetano, "quem viu praias, paixões fevereiras não dizem o que Junhos de fumaça e frio".
Riachão diria : “Cho chuá/ cada macaco no seu galho”.
Eu reforço: Globo Nordeste, Léo Santana, respeitem o São João e sua identidade! Respeitem Januário!
Por: professora mestre Vera Medeiros
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