Estimado Geraldo José. Sempre acompanho o noticiário através de seu blog. Trago aqui um esclarecimento referente a um fato ocorrido no interior de Campo Alegre de Lourdes. Se possível peço um espaço para publicação desta nota em seu blog.
Grato
Raimundo Jorge de Souza
Os/as moradores/as do Povoado do Angico, localizado no município de Campo Alegre de Lourdes (BA), repudiam a acusação de que o protesto realizado na última quinta-feira (28) tenha tido a intenção de ferir os trabalhadores da empresa Andrade Gutierrez infectados com coronavírus, conforme o que foi noticiado em diversos meios de comunicação.
De acordo com a população local, o incêndio provocado em um galpão de ferramentas da construtora foi um pedido de socorro, com a finalidade de chamar a atenção do poder público para as vidas em risco, tanto dos trabalhadores, que não foram levados a um local com infraestrutura de saúde adequada, quanto da comunidade, que ficou exposta ao contágio do vírus. Em nenhum momento o protesto teve a finalidade de atingir e causar danos aos trabalhadores, afirma a comunidade.
Confira o relato de uma moradora do Povoado do Angico:
Os moradores do Angico repudiam toda acusação no sentido de que o protesto tenha querido ferir quaisquer pessoas, afinal, são vidas que estão em jogo e os funcionários já passam pelo dissabor de estarem contaminados pelo vírus. Foi uma medida extrema, de desespero, um pedido de socorro, a fim de despertar o olhar do poder público para aquela localidade, já tão esquecida pelo Estado. São pais e mães de família, que se viram com a saúde própria e dos seus ser colocada em risco, para atender interesses outros que não a saúde pública.
No dia 28/05, foi noticiado pela mídia local que moradores do Povoado do Angico, localizado em Campo Alegre de Lourdes (BA) atearam fogo em um galpão montado pela construtora Andrade Gutierrez para abrigar funcionários contaminados pelo novo coronavírus, após um trabalhador da referida empresa ter ido à óbito, testado positivo para de Covid-19, na cidade de Buritirama (BA).
Os demais funcionários que trabalhavam no mesmo local da vítima, no povoado de Nova Holanda em Pilão Arcado (BA), fizeram testagem para o novo coronavírus, sendo constatado que 34 deles testaram positivo para a doença, o que levou a empresa a decidir pelo isolamento das pessoas em questão, como recomenda o Ministério da Saúde, como medida de segurança.
Os trabalhadores deveriam ser transferidos para a cidade de Barreiras – BA, onde seriam melhor atendidos e tratados. No entanto, em uma atitude irresponsável, que atenta contra a saúde dos infectados e de todos os moradores locais, alguns deles não foram para tal cidade, sendo colocados no balcão anteriormente citado, no Povoado do Angico, onde não há hospital, médicos ou tratamento específico para o coronavírus, ou seja, onde não há o mínimo suporte para que essas pessoas ficassem.
Além disso, foram colocados supostamente em um isolamento, já que não houve separação de pessoas infectadas e não infectadas, trazendo risco de contaminação para toda a população local, afinal, tratavam-se de 34 pessoas, em um local pequeno e considerando o alto índice de contaminação do Covid-19.
O que não foi esclarecido quanto ao fato em questão foi o que realmente aconteceu. Os moradores foram acusados de atentar contra os trabalhadores, sendo que, em verdade, o incêndio foi um protesto contra o desrespeito à saúde de todos, e, em nenhum momento, teve como finalidade atingir quaisquer pessoas que se encontravam no lugar. Prova disso é que o galpão incendiado foi o das ferramentas, nenhum morador do Angico tem ou teve intenção de causar qualquer mal às pessoas. A forma encontrada para o protesto foi uma medida totalmente compreensível, considerando a situação de pandemia que o país se encontra e o total descaso com que as autoridades estão lidando com a questão.
Os moradores do Angico repudiam toda acusação no sentido de que o protesto tenha querido ferir quaisquer pessoas, afinal, são vidas que estão em jogo e os funcionários já passam pelo dissabor de estarem contaminados pelo vírus. Foi uma medida extrema, de desespero, um pedido de socorro, a fim de despertar o olhar do poder público para aquela localidade, já tão esquecida pelo Estado. São pais e mães de família, que se viram com a saúde própria e dos seus ser colocada em risco, para atender interesses outros que não a saúde pública.
Os trabalhadores mereciam seriedade na resolução da questão, de acordo com a gravidade que a doença requer, e os moradores do Angico mereciam respeito para com a sua incolumidade física. Fica registrado o repúdio à forma distorcida como os fatos foram divulgados, tirando do foco o real problema, que foi o não encaminhamento dos trabalhadores para o lugar correto, numa vil tentativa de eximir de responsabilização os verdadeiros responsáveis por esse caos.
Anaquele Lima – Advogada e moradora do Povoado de Angico
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