Aqueles que são vocacionados a escrever a História do Brasil, e que por dever de rotina e compromisso com os acontecimentos se incumbem de compilar os fatos do dia a dia, estão sendo praticamente atropelados por um farto e diversificado material, que irá exigir um amplo esforço de interpretação literária diante de tantas variáveis.
Com o privilégio de vivermos num país de belezas naturais incomensuráveis, de uma floresta enaltecida como o “pulmão do mundo”, e uma costa marítima de 7.491 kms de extensão composta de praias belíssimas, todo esse universo poderia se constituir no sonho literário único de qualquer escritor.
Tristemente, porém, em meio a tantas coisas encantadoras que nos cercam, somos surpreendidos a todo instante pelos mais delirantes episódios de desonra e rompimento dos valores que deveriam dignificar o cidadão. Exemplo veemente de tudo isso, é o câncer da corrupção que se instalou na gestão pública, envergonhou a Nação brasileira, e permanece incurável a comer pelas beiradas, na calada da noite, cada milhão de reais liberado das verbas oficiais. É até repetitiva e intolerável essa infeliz realidade!
A partir da Operação Lava Jato, cujo processo investigativo e punitivo teve uma abrangência bastante ampla, tendo atingido os mais variados níveis sociais e políticos, imaginava-se que os atos de corrupção iriam desaparecer do país por um bom tempo. Ledo engano. Com a chegada do coronavírus ou COVID-19 ao país, essa praga veio acompanhada de todos os males inerentes a uma tragédia, a qual não distinguiu diferenças raciais, o rico do pobre, o patrão do empregado e, inclusive, despertou o gigante que vinha adormecido no Brasil! Como assim? Indaga o caro leitor, já curioso.
Eis os fatos. Assim que decretado por cada Governador ou Prefeito o “estado de Calamidade Pública” face ao COVID-19, logo as compras ou investimentos realizados para o aparelhamento do Sistema de Saúde Pública, ficam dispensados da exigência do processo de Licitação, onde várias empresas concorrem livremente. Daí, com essa justa benesse da lei, juntou a fome com a vontade de comer! Melhor exemplificando: juntou a safadeza com a esperteza, e em questão de dias eclodiram os escândalos de superfaturamentos nas compras de equipamentos – principalmente os respiradores -, fundamentais no salvamento de milhares de vidas. Certamente que uma “Operação Lava Vírus” está a caminho! Aliás, tudo leva a crer, visto que uma CPI parece já está a caminho.
Como por analogia, após as modernidades trazidas pela tecnologia da informática, passamos a conviver com um novo termo técnico apelidado de “vírus”, sempre acompanhado do alerta de que o seu celular ou computador pode estar infectado, passando a requerer cuidados técnicos especiais. Talvez, em decorrência dessa familiaridade, alguns se mostram indiferentes ao poder mortífero desse coronavírus.
Além da multiplicidade de fatores que estão a afetar de maneira drástica a vida de cada pessoa e de cada família, o fato que mais atormenta é ver que não há uma ação efetiva por parte das autoridades mais importantes do país, no combate ao vírus. Qual a estratégia nacional existente? Nenhuma. Fala-se tanto na extinção do isolamento social, e da necessária e importante volta das atividades econômicas. Qual o protocolo coerente para a convivência do isolamento com a abertura econômica? Nenhum. Para voltar tudo ao ritmo normal, perguntaram ao COVID-19 se ele vai embora, ou vai nos levar a 100 ou 200 mil mortos?
Ora, se em curto espaço de tempo a Ásia, Europa e EUA viveram o seu drama e estão progressivamente voltando à normalidade, por que não aplicar aqui as mesmas estratégias? Parece que a prioridade está no aperfeiçoamento do uso dos palavrões na forma de se comunicar, administrar crises de toda ordem, e exibir ao mundo que podemos ser campeões da indiferença e do despreparo, além de uma acachapante falta de disciplina!
O abismo está muito próximo, visto que até do projeto de recuperação econômica em estudo na Europa, para socorrer os países atingidos pelo vírus, o Brasil já está excluído! Para onde vamos? Deus é quem sabe!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador – BA.
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