Há mais de 70 anos no país, o Alcoólicos Anônimos é reconhecido pelo trabalho de recuperar dependentes. Cada reunião tem como objetivo dar força para a pessoa em recuperação evitar o primeiro gole nas vinte e quatro horas seguintes.
A adesão de quem pode ficar em casa às recomendações de isolamento social como forma de retardar o avanço do novo coronavírus (covid-19) vem provocando mudanças nos hábitos de consumo em todo o mundo. Uma delas, em particular, preocupa especialistas e autoridades em saúde: o eventual aumento do consumo de bebidas alcoólicas no ambiente doméstico.
Dados da organização não governamental (ONG) Alcohol Change UK apontam que, uma em cada cinco pessoas afirma que passou a beber mais em casa desde que, em 24 de março, o governo proibiu as pessoas de saírem às ruas, salvo para comprar itens essenciais. Além disso, segundo a ONG, a crise sanitária e o medo de seus reflexos econômicos potencializam a ansiedade, tornando ainda mais difícil para as pessoas largar o vício em álcool.
A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) suspendeu os atendimentos presenciais nas sedes do AA (Alcoólicos Anônimos) de Juazeiro e Petrolina. Em todo o Brasil para superar a quarentena e manter a união na luta contra o alcoolismo, os grupos adotaram encontros online entre os integrantes.
Grupos de WhatsApp foram criados pela entidade para os AA. As informações foram obtidas pela reportagem da redeGN através do contato com integrantes dos grupos e alguns membros contaram suas preocupações à reportagem e pediram anonimato.
“Estamos realizando reuniões online, um membro partilhando com os outros para não ficarmos sem o nosso remédio que nos mantém sóbrios, que é a troca de experiências.”, disse um aposentado de 75 anos que faz parte do AA, há 40 anos. Um funcionário público de 59 anos, afirma que a atuação da entidade neste momento de quarentena é ainda mais fundamental devido ao confinamento domiciliar. Na visão dele, muitas pessoas têm descoberto o alcoolismo neste momento. O uso da tecnologia também foi a alternativa encontrada para os Grupos Familiares Al-Anon, dedicado a troca de experiências entre os parentes e amigos de alcoólicos.
“Para mim está sendo um alívio poder conversar com o grupo. Onde sofremos o mesmo sentimentos e somamos juntos a mesma força. A cada troca de mensagem é uma força incrível para se ajudar. A vencer a ansiedade e o estresse. Está funcionando muito bem assim, ainda mais nesse tempo de quarentena onde estamos com os alcoólicos dentro de casa”, disse uma mulher de 53 anos, membro da associação.
No Brasil, a organização Alcoólicos Anônimos (AA) afirma ter identificado um aumento de busca de informações sobre o trabalho do grupo. “Observamos que, diante de tudo o que está acontecendo, pessoas que nunca tinham procurado informações sobre o AA passaram a procurar ajuda. Visitando nosso site, ficaram sabendo das reuniões a distância, entraram na sala e começaram a participar” disse a psicóloga Camila Ribeiro de Sene.
Para dar continuidade ao atendimento, mesmo durante a quarentena, o grupo tem recorrido ao uso da tecnologia e encontrou nos aplicativos de videochamada uma alternativa às reuniões presenciais que os cerca de 5 mil grupos espalhados pelo país promoviam até o novo coronavírus chegar ao país.
“A tecnologia tem nos permitido superar distâncias, mantendo-nos próximos em um momento difícil”, disse a psicóloga, explicando que muitos dos internautas que chegam a uma das salas do AA por meio do site da organização nunca tinham pensado em frequentar as reuniões presenciais. “Algumas [pessoas] se sentiram mais à vontade, já que não precisam ligar suas câmeras nem mesmo usar seus verdadeiros nomes”, contou Camila, garantindo que as ferramentas digitais têm se mostrado eficazes e seguras, desde que observadas as recomendações do grupo.
Na página do AA, é possível acessar a reunião online que ocorre todos os dias, às 20h, e é aberta a qualquer pessoa. O programa necessário pode ser facilmente acessado pelo computador, tablet ou telefone celular do tipo smartphone. Além disso, muitos grupos, em muitas cidades, criaram seus próprios espaços de encontro digitais, recorrendo inclusive ao WhatsApp.
“Quem já frequentava um grupo presencial sente falta, pois surgem afinidades entre as pessoas. Manter-se sóbrio é um grande desafio, principalmente em situações de estresse, que favorecem um maior consumo não só do álcool, mas também de outros produtos, como o cigarro. E neste momento, confinadas, preocupadas, as pessoas, em geral, estão emocionalmente fragilizadas. Daí a importância de oferecermos suporte”, concluiu Camila.
A professora do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Zila Sanchez disse que algumas pessoas, equivocadamente, tendem a ver nas bebidas alcoólicas uma maneira de relaxar, por considerar que o álcool diminui a ansiedade.
“O problema é que o álcool tem um alto potencial de causar dependência e intoxicação. Seu consumo frequente aumenta as chances de ocorrência de acidentes domésticos e de episódios de violência, além de agravar transtornos psíquicos, como a depressão. Para não dizer que ele facilita a contaminação pelo próprio coronavírus, já que é um imunodepressor que afeta a imunidade”, acrescentou Zila.
O contato par quem desejar é aa.org.br/reuniao-a-distancia
A reportagem tentou fazer contato com um Grupo em Juazeiro, Bahia, mas não conseguiu completar a ligação.
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