As incertezas quanto ao coronavírus têm pressionado negativamente a demanda interna por frutas, especialmente por parte da agricultura familiar, e prejudicado a logística de abastecimento dos perímetros irrigados, em Petrolina.
Quando os efeitos da pandemia levaram ao fechamento do comércio no mês passado, o agricultor Clédes Gomes Bezerra, de 40 anos, preparava-se para a colheita de coco e acerola numa área de 5 hectares. Em vez disso, guardou as ferramentas agrícolas por escassez de mão-de-obra, e agora tenta evitar o apodrecimento dos frutos, os disponibilizando para doação.
"Minha família está tendo 100% de perda [de produção] e, infelizmente, não tenho como enviar essas frutas para órgãos e instituições, uma vez que elas têm um custo elevado de colheita. Neste momento estamos impossibilitados até de colher". E continua: "Caso alguma instituição tenha interesse nelas, eu as deixo disponibilizadas, tendo apenas que fazer o acerto com os catadores", disse. Clédes possui 1.000 pés de acerola e 700 coqueiros, carregados.
Já segundo Francisco do Nascimento Amorim, de 31 anos, pequeno agricultor do Núcleo 4 do Projeto de Irrigação Senador Nilo Coelho, seu prejuízo já ultrapassa os 80%, numa sequência de tombos que teve desde 2019. "O coronavírus só veio colocar uma pá de cal sobre nossa produção, uma vez que já vínhamos tendo prejuízos aqui, devido às dificuldades de comercialização direta com a indústria e os baixos preços. Porém, nesta safra, quem conseguiu vender 15% foi sortudo, lamenta.
Com a atual crise, muitos compradores estão retraídos do mercado, o comércio trabalhando com estoques regulados, além do consumo mais comedido pela população, que contribuem para o cenário de baixa. Para – no mínimo – os próximos dez dias, a incerteza quanto ao consumo persiste em função do período de quarentena, o que mantém o pessimismo dos agricultores em relação as suas safras.
De acordo com o Sindicato dos Agricultores Familiares de Petrolina (Sintraf), um ofício apresentando propostas e solicitando medidas para o enfrentamento da situação foi enviado à prefeitura, 3ª Superintendência Regional da Codevasf e ao DINC, no dia 30 de março, mas que ainda aguarda um posicionamento. "Estamos tentando dialogar com essas instituições a compra das frutas, a diminuição da taxa fixa de água e a criação de um comitê de crise para o gerenciamento da epidemia", relata Isália Damacena, presidente da entidade.
Do Bebedouro ao Projeto Maria Tereza, as restrições necessárias para conter a disseminação da Covid-19 deixaram um rastro de safras perdidas, ausência de centenas de agricultores no campo, uma nova queda no preço das frutas (de até 40% dependendo da cultura) e o temor de que a crise se prolongue por mais tempo.
"Com a pandemia, nossa situação ficou muito difícil. Eu e meu esposo tivemos um prejuízo de R$ 30 mil porque não tínhamos como colher nossa produção e mesmo que conseguíssemos, não teria para quem vender. Todo nosso trabalho e investimento foram perdidos; mas é isso, né, seguir de cabeça erguida esperando que esse vírus passe logo", finaliza a agricultora Antônia Úrsula Silva, de 28 anos.
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