Épocas de crise sempre nos fazem refletir sobre as nossas vidas e o mundo em que vivemos. A medida em que o Covid-19 vai avançando, vamos percebendo e entendendo a gravidade da crise econômica, política e social que nos espera pela frente.
Assim como a crise de 1929, a maior crise da história do capitalismo, contribuiu para derrubar a república velha, instituída em 15 de novembro de 1889 abrindo caminho para um longo período de ditadura civil liderada por Getúlio Vargas, essa crise provavelmente terá potencial de provocar um redimensionamento nos eixos político e econômico do nosso país.
O Covid-19 escancara todas as nossas fraquezas e contradições. Um país extremamente desigual, com uma economia frágil de baixo potencial de crescimento, um sistema político institucional falido que perdeu seus principais meios de interlocução e um chefe do executivo populista de extrema direita, incapaz de liderar e unir o país em prol do enfrentamento da, provavelmente, maior crise de nossa geração – Essa não é só a existência de uma tempestade perfeita, mas a preparação de um furacão devastador. Certamente o Brasil e o mundo não sairão o mesmo dessa crise.
Qualquer conjectura nesse momento é difícil haja vista que a crise está apenas no começo. Entretanto, é possível traçar alguns cenários e perspectivas baseados em alguns movimentos que já estão ocorrendo.
É muito provável que a crise encabeçada pelo novo coronavirus acelerará a transformação digital que já estava acontecendo em virtude do surgimento das novas tecnologias oriundas da 4° revolução industrial.
Transformação digital não significa apenas a utilização de conferências online, compras por aplicativo e consulta com médicos remotamente, mas também a utilização de tecnologias que rapidamente irão automatizar a mão de obra menos qualificada no comércio e na indústria.
Se por um lado a crise do coronavirus abre um debate acerca da necessidade de uma renda básica universal para assistir trabalhadores autônomos e informais durante o período de quarentena, esse assunto certamente voltará a cena a medida que tecnologias como computação em nuvem e inteligência artificial abocanharem milhares de postos de trabalho gerando uma massa de pessoas não apenas desempregadas, mas “inempregáveis”.
Trabalhadores que não terão a condição mínima de se inserir no mercado de trabalho dada a velocidade da mudança provocada pelo surgimento de novas tecnologias e as habilidades necessárias para compreender ferramentas tecnológicas em um mundo cada vez mais digital.
Se por um lado a internet conectou as pessoas e democratizou a informação, por outro gerou desinformação através de um número incontável de notícias falsas e factoides criando uma enorme dificuldade no combate ao vírus e sendo uma ameaça real a democracia.
Por fim, a pandemia pode ser o pretexto perfeito para justificar o fim da privacidade e o início do monitoramento e rastreamento individual das pessoas pelo estado e empresas de tecnologia.
Essa iniciativa já iniciada pela China e empresas americanas de tecnologia poderá incentivar e acelerar a criação de ditaduras digitais. Ditaduras muito piores do que qualquer outra vista pela humanidade no passado, com tecnologias de monitoramento não apenas de localização e visualização de nossas conversas, mas também captura e análise dos nossos dados vitais sob o pretexto de preservar saúde coletiva de todos.
Um governo que poderá ver, ouvir e saber tudo. É poder demais em poucas mãos.
Kelvin Silva – Engenheiro de automação, amante de história política e leitor do blog.
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